quarta-feira, 28 de maio de 2008

#28 - ... E pra onde vai o coelhinho branco?


Pobre do doutor Albert Hoffman, que lamentou-se pelo resto da vida...

Ao desenvolver uma medicação para tratamentos de alcoolismo e disfunções sexuais, ingeriu acidentalmente um pouco da substância, e viu-se na necessidade de interromper o trabalho devido a uma série de alucinações. Com a substância distribuída, não deu outra... Em pouco tempo a droga (batizada de LSD) estava difundida entre multidões ávidas por despertamento espiritual, contatos com espíritos, arroubos de inspiração, ou simplesmente um período de viagem e diversão fora do comum.

Formara-se aí um movimento grande, porém sem nome, que só foi batizado oficialmente (de Movimento Psicodélico) com o bombástico surgimento de uma banda estadunidense chamada Jefferson Airplane.

O grupo formou-se em 1965, e dois anos depois já estava estourado nas paradas, e sendo pioneiros em montes de experimentos musicais na mídia, entre eles a aparição num programa de TV tocando em frente a um chroma key (aquele efeito em que uma cor padrão na imagem é substituída por outra), com um fundo hipnótico de cores, recurso que foi imitado por uma infinidade de bandas a partir de então.

O Jefferson Airplane era um grupo assumidamente adepto dos alucinógenos, e membros chegaram a ser expulsos só por recusarem-se a usar drogas.

Tolo seria aquele que atribuísse a qualidade e ousadia da banda a tais viagens, já que qualquer um que observe o cenário atual pode constatar que dopar a mente não traz talento a ninguém... Eu, particularmente, já me sinto “dopado” o bastante pela vocalista bonitona...

A despeito disso, a temática do Jefferson Airplane ao menos é interessante, e suas músicas bastante memoráveis. Aí vão links das suas canções mais famosas:

“White Rabbit” (reparem a perfeita junção da letra com Alice no País das Maravilhas):
http://www.youtube.com/watch?v=3LdwGUXoXyA

Somebody To Love”:
http://www.youtube.com/watch?v=JUbMWtUyIIE&feature=related

Ambas ao vivo:
http://www.youtube.com/watch?v=Q1cfTMdjkYM&feature=related

Interessante versão de “Somebody to Love” pelos Ramones, na verdade a primeira com que tive contato, ouvindo o CD “Acid Eaters” do meu primo:
http://www.youtube.com/watch?v=tdRFeprn_xc

Bom proveito, e diga não às drogas (principalmente as auditivas)!

terça-feira, 27 de maio de 2008

#27 - O Cavalheiro Solitário


Era uma noite de muita expectativa na cidade de Hamburgo. Era 1848. Um jovem virtuose do piano, de apenas quinze anos, estava para dar seu primeiro concerto público, organizado por ele próprio.

A sala encheu-se, e o pianista agitou os ânimos da platéia com um repertório cheio de agilidade e obras do gosto popular. Foi um sucesso estrondoso. O jovem músico, apalermado com a situação, do tipo que nunca vivera, estava nos bastidores a tomar fôlego, quando um homem entrou no recinto feito um furacão. O rapaz voltou-se para ele, e em sua hipnose extasiante abriu os braços para receber uma suposta congratulação calorosa. Mas Eduard Marxen, seu mestre, agarrou-o pelo paletó e o sacudiu:

- O que pensa que está fazendo, Johannes?
- O que foi, mestre? –
assustou-se o jovem.
- É isto que você quer? Afundar nesse lodo de sorrisos e sucessos, enquanto joga fora sua alma para agradar todo mundo com esse monte de lixo?

Johannes teve um choque. Era o indivíduo mais sincero e humilde que o mestre Marxen conhecia. Queria ser compositor, mais do que tudo, e deixara-se levar, tão fácil, pela ilusão do sucesso barato. A partir de então, continuou estudando a fundo, e passou a finalizar suas primeiras obras oficiais.

Joseph Joachim, um grande violinista da época, após fazer algumas apresentações com Johannes, ficou maravilhado com seu talento, e logo arranjou-lhe uma carta de apresentação para que Johannes conhecesse Franz Liszt, pianista e compositor aclamado como o mais espetacular virtuose da época. Assim, o pobre rapaz viu-se, de repente, enfurnado numa sala em Weimar, junto de célebres convidados e diante do grande Franz Liszt. O clima de sofisticação e superficialidade que cercava o momento deixou Johannes um tanto perturbado. Liszt já havia tido contato com algumas obras de Johannes, e pediu que ele tocasse alguma delas para todos. O pedido foi gentilmente recusado, mas Liszt, sem fazer-se de rogado, pegou uma das partituras e tocou ele mesmo. Os convidados ficaram encantados, e Liszt, empolgado, anunciou:

- Vou agora tocar uma de minhas peças para que você conheça. – E executou uma de suas obras mais espetaculares, tirando o fôlego dos que ali estavam. Ao terminar, sorrindo, virou-se para analisar a expressão de Johannes Brahms, e teve um choque ao notar que ele estava cochilando na poltrona.

Brahms não teve mais contato com Liszt, pois não estava afeiçoado a todo aquele movimento de “grandiosidades” e “revoluções musicais” que reinava em Weimar. Suas obras eram tidas como puras, profundas e sentimentais, e eram criticadas e rejeitadas por toda a horda de seguidores (entre músicos, estudiosos e críticos) que julgavam-se apreciadores da verdadeira música: a que Richard Wagner e Franz Liszt estavam fazendo.

Anos se passaram, até que Brahms conheceu aquela que seria seu grande amor e inspiração: Clara Schumann. Pianista excepcional, Clara era esposa de Robert Schumann, que tornou-se grande amigo e apoiador de Brahms, mas tomado pela insanidade, foi posto num manicômio, onde veio a falecer.

Brahms passou a ser um grande sustentáculo, então, para Clara. Devotou-lhe a mais pura e sincera amizade, e jamais aproveitou-se da falta de Robert. Na mesma época, sua carreira passou a piorar, com sucessivos fracassos de suas músicas. O compositor entrou numa grande onda de tristeza.

Mas foi no mais fundo de sua depressão que Brahms encontrou a saída, ao compor, num relâmpago de ânimo, uma obra inesquecível. E quando sua Terceira Sinfonia estreou, nem os ferrenhos seguidores de Wagner e Liszt puderam ficar alheios a seu poder. Era a redenção do espírito, do compositor mais gentil, solitário e humilde que a história já conheceu: Johannes Brahms.

No aniversário de 65 anos de Clara Schumann, Brahms saiu para comprar flores, mas encontrou a loja fechada. Voltou para casa, e decidiu dar a ela, de presente, a partitura do Terceiro Movimento desta Terceira Sinfonia.

Esteja pronto para o tema principal, tido como o mais belo de toda a obra de Brahms, pois em alguns pode causar profunda tristeza, noutros o escuro da solidão, e noutros ainda o vislumbre da beleza do desconhecido. A obra resume a alma do artista, imbuindo-se de diferentes atmosferas, que intercalam-se de modo bastante sutil, hora imprimindo mistério, hora um ensaio de sorriso.

“Johannes Brahms – Terceira Sinfonia, Terceiro Movimento”:
http://www.youtube.com/watch?v=aNQSzTyvDw4&feature=related

E essa é pra relembrar os sonos da infância:
“Johannes Brahms – Lullaby”:
http://www.youtube.com/watch?v=t894eGoymio

- “Não posso compor como Beethoven, ou como Mozart, mas que eu possa ser puro como eles.”

Bom proveito!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

"Gosto" não se discute, se trata


Ouvir um só estilo, um só tipo de música, pra mim chega a ser patológico. É mais ou menos como uma pessoa que só se permite apaixonar-se por exemplares do sexo oposto que tenham características xís que elas (sabe-se lá por que razão) estabelecem. É o que mais vemos por aí, e é um fato constante em minhas lembranças do colegial nos diálogos com meus velhos amigos.

A coisa é mais grave do que parece, porque não nos damos conta de estarmos lançando atenção exclusiva ao pacote, em detrimento daquilo que mais importa: o que somos, o que nos torna humanos, o que move um mero amontoado de carne e ossos.

Impossível a qualquer um explicar o que é música. De onde ela vem, e por que um apanhado de sons é capaz de movimentar tamanha quantidade de pensamentos, emoções, imagens e lembranças?

Embora não consigamos cogitar sua causa e origem, qualquer músico sabe por que meios essenciais a música se apresenta a nós, em nosso plano. Pra dizer de um modo geral, a união dos elementos ritmo, harmonia e melodia é o que nós classificamos como música, de um modo íntegro, por assim dizer. Sendo fato que esta linguagem utiliza-se das vibrações do ar para materializar-se (chegando assim a nossos ouvidos, cérebros, e por fim nossos espíritos), a ela precisa-se somar elementos instrumentais, através dos quais a música possa existir de fato.

Assim, fica claro que uma mesma criação musical pode adquirir sonoridades diferentes, dependendo do instrumento pelo qual surja. Eis aqui uma grande questão... É óbvio que o instrumento acaba se somando aos elementos essenciais da música (ritmo, harmonia e melodia), mas esta soma não se aplica como essência, já que tocar uma música por diferentes instrumentos não a modifica, mas apenas dá-lhe aspectos variáveis relativos.

Desse modo fica claro que quem ouve exclusivamente um estilo musical, está subordinando sua percepção e sensibilidade a uma roupagem, e não à música. Está limitando-se à proporção em que cria em sua consciência a ilusão de que o que faz uma música ser boa não é a música em si, mas o modo como ela se apresenta. É como admirar uma pessoa pela roupa que ela veste, e não por sua humanidade e personalidade.

Tendo música como profissão, brinco em minha mente com idéias musicais quase que o tempo todo, e costumo fazer algo que acredito ser bastante interessante: às vezes lembro de alguma música da moda, dessas que caem no gosto de milhões do dia pra noite, e desfaço a instrumentação dela. Deixando dela apenas ritmo, harmonia e melodia, imagino-a num arranjo simplíssimo para piano. Faço isso porque acredito que uma música que é bela, o é pela essência, e continuará sendo bela mesmo se a apresentarmos com o máximo de minimalismo. Geralmente dessas músicas citadas não sobra absolutamente nada... Mas não coloco isto como evidência da teoria, já que posso ser um péssimo arranjador... ¬¬

E como este blog não é só de ler, mas também de ouvir, tenho o grande prazer de postar, como exemplo, uma pequena obra, simplíssima e muito bonita, de autoria do veterano Kalau, artista premiado por suas trilhas teatrais. A música chama-se “A Cidade”, e é parte da trilha sonora (indicada ao Prêmio Shell) da peça “Cinema Éden”.

http://www.youtube.com/watch?v=jeP2VFTcPiw

Muito mais do trabalho de Kalau pode ser acessado em:
http://www.kalau.com.br/

Bom proveito!

#26 - Avôhai (um sopro dos etês)


E se existe artista capaz de reunir mitologia grega, história em quadrinhos e poesia do cotidiano a uma primorosa capacidade musical, que esta sina recaia sobre Zé Ramalho.

Nascido na Paraíba, em 1940, o primo de Elba Ramalho (com quem compartilha supostos contatos com seres extraplanetários) sempre fora de muitas misturas, mas a pior delas foi a de sua alma artística com a busca da sensação de liberdade. Embrenhado desde muito jovem em meio aos grandes cantadores (inclusive Alceu Valença e Raul Seixas) não se evitou de usar drogas. Nos anos 70, já em carreira, construiu uma casa à beira-mar, exclusiva para reunir amigos e “sacudir a região”. Deixou o vício por completo somente em 1989, para o bem de sua vida e arte.

Sobre este episódio compôs “Vila do Sossego”, canção de oposições, em que o arranjo vocal em tom sublime contrasta com sua voz rígida e resoluta a recitar uma letra visceral.

"Vila do Sossego":
http://www.youtube.com/watch?v=GbygYXEwoTA

E sua poesia e raiz nordestina ganham brilho especial na maravilhosa e enigmática “A Terceira Lâmina”:
http://www.youtube.com/watch?v=XYwxCn0nMPI

Bom proveito!

terça-feira, 13 de maio de 2008

#25 - Criatividade superando a falta de Bits


Na segunda metade da década de 80 a febre dos videogames atingia seu auge. A Era dos 8-Bits havia trazido aos lares das pessoas uma ferramenta de entretenimento muito mais atrativa em questões de complexidade interativa e gráfica dos jogos.

Mas um outro detalhe ganhou espaço essencial na criação dos games, já que a possibilidade polifônica também havia atingido a nova tecnologia: a música. O Japão reinou absoluto (e receio não estar exagerando) nesta área, com o surgimento de compositores de extremo talento e apaixonados pela nova possibilidade.

A estes músicos, porém, não bastava ter criatividade. Era necessário também que conseguissem subordinar certa parte de seu pensamento musical às possibilidades da tecnologia 8-Bits, para conseguir o melhor resultado possível a despeito das grandes limitações sonoras.

Ouviremos a seguir algumas das músicas que ganharam o coração de milhões na época, através das séries de jogos para Nintendo "Zelda" e "Mega Man". Se eles estão rankeados entre as 10 séries de games mais geniais da história, suas trilhas sonoras vão ainda mais longe em adoração, perdendo somente para o antológico tema de "Super Mario Bros." (que, a propósito, é de Koji Kondo, mesmo compositor de "Zelda").

São melodias heróicas, alegres, que jogam o ânimo para cima. Hoje em dia, infelizmente, as crianças e jovens são bombardeados com jogos cujas imagens grotescas, monstruosas e sangrentas são acompanhadas por trilhas também obscuras e grotescas. Não é o teor da crítica elas serem assim. É só uma pontuação para que se note o quanto as músicas daquela época refletiam a verdadeira pureza, fantasia e inocência da infância e juventude. Atualmente perde-se tudo isso cedo demais.

Para aqueles que não vivenciaram esta época, é só imaginarem estar ouvindo um belo ringtone de celular! Vamos aos temas:

Mega Man 3 - Introdução (de Yasuaki Fugita - 1990)
http://www.youtube.com/watch?v=TiQgYfyUdDs

Mega Man 2 - Flash Man (de Manami Matsumae - 1989)
http://www.youtube.com/watch?v=fsW3oYwD2oM

Mega Man 3 - Magnet Man (de Yasuaki Fugita - 1990)
http://www.youtube.com/watch?v=h92upxAitdk&feature=related

Mega Man 5 - Stone Man (de Yasuaki Fugita - 1992)
http://www.youtube.com/watch?v=TOzdjR91wag

Mega Man 6 - Blizzard Man (de Yasuaki Fugita - 1993)
http://www.youtube.com/watch?v=dQKiHZVLFAk

Mega Man 2 - Metal Man (de Manami Matsumae - 1989)
http://www.youtube.com/watch?v=si8HiBgcg_U

Zelda - Introdução (de Koji Kondo - 1986)
http://www.youtube.com/watch?v=v7aN5wPdNFU


Bom proveito!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

#24 - Amores Vêns, Amores Vãos...


E Otto Preminger com certeza devia ter pensado: “esse homem acha que sabe mais sobre o filme do que eu?!

Ele dirigia, em 1944, o filme noir “Laura”, e já vinha sofrendo diversos palpites do mestre compositor David Raksin (1912 – 2004). O principal deles havia sido a respeito de uma cena que o diretor Otto encurtara, por achar longa. Nela, o protagonista, um detetive que investiga o suposto assassinato de uma belíssima e rica mulher, entra no apartamento desta, e passa a caminhar e observar todos os cômodos, até deter-se aparvalhado, diante de seu retrato.

O compositor Raksin chamou a atenção de Otto para o peso psicológico da cena, imprescindível para estabelecer na mente de todos o conflito de um homem apaixonando-se perdidamente por uma mulher supostamente morta. Na verdade Laura aparece viva logo em seguida, mas Raksin percebeu que a fotografia do filme (único Oscar que a obra levou) causava-lhe uma grave impressão de ilusão, que o levava a questionar constantemente sua razão quanto à real existência daquela mulher, durante todo o filme. Otto acatou o conselho, e sua indicação ao Oscar veio.

Ainda assim, durante o processo, outro impasse surgia quanto à trilha sonora do filme. Otto desejava utilizar como tema uma canção famosa chamada “Sophisticated Lady”. Raksin novamente meteu seu glorioso bedelho, perguntando a Otto que conexão ele via entre a personagem Laura e aquela canção. Como resposta, Otto apenas disse: “Bolas... se é assim, então me apareça até segunda-feira com algo melhor! Senão eu uso esta mesmo!”. Era sexta-feira.

É aqui, então, que ocorre um dos mais tocantes fatos da história da música para cinema. Raksin passou a sexta e o sábado compondo diversos temas, sem satisfazer-se com nada. Decidindo relaxar por um momento, saiu para um breve passeio no domingo, e ao chegar em casa, deparou-se com uma carta de sua esposa, e no envelope: “Dear David”. Pegou a carta e guardou-a no bolso, indo direto ao piano, afinal tinha muito trabalho pela frente. Ainda assim, seu bloqueio criativo frustrou-o por vários minutos.

Em dado momento, Raksin decide fazer algo que costumava ajuda-lo em momentos assim. Gostava de colocar diante de si uma foto bonita, ou um poema, para deixar a mente vagar e assim a criatividade surgir. Lembrou-se da carta de sua esposa, e animou-se. Pegou-a do bolso e abriu. Ao ler, tomou um choque: sua esposa o estava deixando. Estranhamente, como que por uma agoniosa mágica, a primeira coisa que ele fez foi pôr a carta diante de si e tocar os primeiros acordes que viriam a tornar-se uma das canções cinematográficas mais belas e regravadas:

David Raksin – Laura:
http://www.youtube.com/watch?v=Baj5Q7H5q6s

Nesta versão, ela é interpretada por Carly Simon, cantora de altíssimo reconhecimento internacional, cuja ligação com o sentimento de Raksin relacionado à criação de “Laura” pode ser especial, já que o florescimento de sua carreira envolveu uma separação dolorosa relacionada a casamento (o de sua irmã, com quem formava uma dupla), que seu primeiro álbum solo trata sobre casamento, e que o seu próprio com o grande gênio folk James Taylor não perdurou.

Aproveito, então, para linkar uma música de Carly, do álbum homônimo de 1987. A música é uma surpresa, já que o aparente pop romântico ganha boas caras por tratar de esperança e de família, numa temática que diz mais ou menos: ainda que tudo sempre mude, se você estiver disposto a jogar o jogo, as coisas boas sempre encontrarão um modo de voltar.

Carly Simon – Coming Around Again:
http://www.youtube.com/watch?v=AZ_X4DeEcKk


Bom proveito!

(E créditos do título do post à poetiza Mariana Campos)

terça-feira, 6 de maio de 2008

#23 - Aqueles foram os dias...


O compositor russo Boris Fomin (1900 – 1948) incorporou muito do estilo cigano em suas músicas, embora seja difícil dizer pelos meios lógicos em que elementos das mesmas elas se entrelaçam.

Saber que ele era grande freqüentador aleatório de tavernas é uma informação bem satisfatória para estabelecer uma conexão, mas ela satisfaz apenas um aspecto externo e estético de seu estilo.

Boris só conseguiu deixar uma marca, criar um ícone da música cigana (mesmo sem ser um), quando, no auge da vida, viu-se desiludido a lembrar das épocas passadas, quando tinha grandes sonhos e podia dividi-los como se o fracasso fosse impossível, não importando o tamanho da imaginação.

É desse universo nostálgico que surgiu a antológica canção Дорогой длинною ("Dorogoi dlinnoyu"). Ao mesmo tempo em que sua melodia e energia imprimem ânimo e ritmo em nossas almas, a letra revela um coração aparentemente partido pela discrepância entre presente e passado; um passado onde sonhar com tudo de maravilhoso que se faria nunca era demais.

E por fim... Se ainda está se perguntando o porquê dessa foto do Pedro de Lara, então vá logo a um dos links e provavelmente poderá provar um pouquinho da nostalgia que inspirou nosso caro Boris...

Links:

- Versão tradicional:
http://www.youtube.com/watch?v=xXbBrj3uX8M

- Versão menos tradicional:
http://www.youtube.com/watch?v=_TStyce4flQ

- Versão moderna:
http://www.youtube.com/watch?v=y6pVdnuOrbE&feature=related

Bom proveito!

#22 - Um Conto das fadas emo de Tim


Chegara o ano de 1990, e uma dupla inseparável havia ganho imenso prestígio no mundo cinematográfico, após seus trabalhos com “Bettlejuice” (Os Fantasmas se Divertem, 1988) e “Batman” (1989). O diretor Tim Burton e o compositor Danny Elfman haviam consolidado, com estes dois (até então) últimos trabalhos uma parceria bastante eficaz, geradora de um conteúdo estilístico que veio a ser a marca registrada dos filmes de Tim: a operística em preto e branco, clima de mistério e muitas olheiras.

Mas em 1990 foi lançado o filme que seria, por muitos, considerado a obra-prima do diretor. Tratava-se de “Edward Scissorhands” (Edward Mãos-de-Tesoura), uma fábula criada pelo próprio Tim, em que um cientista amalucado desenvolve um rapaz. Numa tragédia, o cientista morre sem dar a ele um último detalhe: mãos humanas. A solitária criatura, então, é descoberta acidentalmente por uma vendedora de cosméticos, que encantada e compadecida, decide leva-lo daquela mansão abandonada para morar com sua família.

O compositor da trilha, Danny Elfman, apesar de já portar na época boa experiência com grandes filmes, diz que só sentiu que poderia ser chamado de “compositor de trilhas” após ter trabalhado neste filme, que afirmou ser ter sido mais difícil que “Batman” (http://www.youtube.com/watch?v=X4ydxgekFls&feature=related), trabalho que o havia esgotado.

Em Edward Mãos-de-Tesoura Danny compôs, entre tudo, dois temas que são principais no filme. O primeiro tema escolhido chamava-se inicialmente “Edward’s Theme”, uma música profunda e extremamente sensível. Apaixonando-se de imediato por ela, Tim Burton disse ao compositor Danny que iria usa-la também na seqüência de abertura do filme. Apesar da grande empolgação de Tim, Danny não gostou da idéia, porque gostaria de usar a melodia aos poucos, conforme o mundo emocional do personagem Edward fosse crescendo e se aprofundando. Para a seqüência de abertura, cuja tônica parecia “mecanização”, Danny compôs algo que realçasse esta maquinação, imprimindo sua costumeira aura de mistério, adicionando também uma pitada de inocência.

A idéia de Danny fez muito sentido para o diretor, e assim desenvolveu-se a trilha. O tema relativo ao universo sentimental da criatura Edward passou a chamar-se “Ice Dance” (dança no gelo), e ganha força numa cena das mais belas e singelas de toda a obra de Tim, em que a personagem Kim (interpretada por Winona Ryder) dança sob uma chuva de neve, criada enquanto Edward molda, com suas mãos de tesoura, uma gigantesca escultura num bloco de gelo.

Links:

- Abertura:
http://www.youtube.com/watch?v=fNaoFNjZJ_w

- Ice Dance: