quarta-feira, 26 de novembro de 2008

#54 - O quarto tenor fugiu pro rock


Quem disser que Freddie Mercury é um cantor bastante operístico, dificilmente será criticado. Ainda assim, a despeito do inigualável talento do cantor (inclusive como compositor), é válido perguntar de onde exatamente surge a associação entre seu estilo e a ópera.

Não é possível rotular Freddie Mercury como cantor lírico baseando-se em sua capacidade vocal, que apesar de extraordinária, apresenta em grande parte a roupagem – por vezes lisa, por vezes áspera – do rock. Mas é sim possível colocá-lo neste patamar, se nos detivermos em certos parâmetros claramente notados em suas composições.

Em outras palavras, se a roupagem da voz de Freddie não tem “cara de ópera”, suas músicas muitas vezes estruturam-se na liberdade operística. É exatamente graças à influência da música operística que os maiores sucessos do Queen (compostos por Freddie), são acusados – no bom sentido – de romperem lindamente com as estruturas do rock, tomando rumos inusitados e muitas vezes de cunho narrativo.

Vamos tentar perceber esse aspecto tão significativo de suas músicas, sob dois prismas bem distintos, mas que levam ao mesmo raciocínio:

-Primeiro, a quebra da estrutura convencional rock:
http://www.youtube.com/watch?v=Db65ZsVsLWo&feature=related

-Segundo, numa canção mais convencional, em parceria com a cantora lírica Montserrat Caballé:
http://www.youtube.com/watch?v=mvZGgbF43H8

Bom proveito!

#53 - Casamentos perfeitos, filhos notáveis


Era início da década de 60, e quatro amigos (as garotas Michelle e Cass; e os garotos John e Denny) assistiam televisão. De repente, surge uma entrevista com os lendários motoqueiros Hell’s Angels. As meninas agitam-se com a visão de um belo exemplar masculino encasacado que diz: “Aqui nós chamamos nossas mulheres de ‘mamas’!”. Imediatamente, Michelle e Cass suspiram, dizendo em uníssono o quanto adorariam ser “mamas”.

E a questão foi de pura lógica: se elas seriam “mamas”, restaria a John e Denny serem os “papas”. E assim surgiu o “The Mamas & the Papas”, grupo vocal que criava suas próprias canções, e não bastasse a beleza das mesmas, davam a elas uma dinâmica de vozes que tornou-se marca registrada na história da música.

O “The Mamas & the Papas” foi um dos únicos grupos norte-americanos que conseguiu competir na época, em primeira grandeza, com a “invasão britânica” que dominava as paradas de sucesso (e encabeçada, para se ter uma idéia, pelos Beatles).

Sua maior obra-prima é, sem dúvida, a canção “Califórnia Dreamin’”, exemplo básico e clássico da genialidade com que construíam o jogo das vozes:

http://www.youtube.com/watch?v=dN3GbF9Bx6E

- “Monday, Monday”:
http://www.youtube.com/watch?v=LW7NpsHR3K0

Bom proveito!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

#52 - A voz na Escuridão


Era uma tarde comum na comuna rural de Lajatico, Itália. Num pequeno campo improvisado, alguns garotos jogavam futebol.

A princípio, a meninada torcia o nariz quando o jovenzinho Andrea oferecia-se para jogar. Diziam que ele tinha um problema de nome esquisito, que o fazia enxergar muito mal. Goleiro, nem pensar... Com o tempo haviam se acostumado. Naquele dia, porém, o destino selaria sua sentença... Numa emocionante jogada de ataque, um chute poderoso e certeiro fez a bola atingir a cabeça de Andrea, e ele ficou definitivamente cego.

Talvez aquele que não possa ouvir o que vem de fora, possa ouvir melhor o que vem de dentro, como Beethoven. E se com a visão dá-se o mesmo, talvez tenhamos boa explicação para o excepcional talento que o garoto cego passou a demonstrar em sua emoção e voz.

Andrea Bocelli veio a tornar-se um dos maiores cantores do mundo. Engrossou também, junto do ícone Luciano Pavarotti, a fileira dos gênios que vieram ao mundo numa importante missão: trazer a música das óperas e orquestras para o povo, para as grandes massas. Grandes massas estas extremamente desgastadas pela frivolidade e banalidade que tem condenado a música popular ao posto de trivialidade instantânea.

Muitas foram as canções que fizeram sucesso pela voz de Andrea. Uma delas chama especial atenção, não só por sua beleza em si, mas por conter uma poética homenagem à nossa padecida Terra.

-“Andrea Bocelli – Canto Della Terra”:
http://www.youtube.com/watch?v=kCrWxKoOhH8&feature=related

Bom proveito!

#51 - Três são demais


O jazz não é só um estilo musical refinado, consagrado, mas também é um gênero que tem sua execução aparentemente subordinada sempre a músicos de alto nível técnico e acuidade.

Por que então o jazz é o estilo que tem recebido críticas das mais ácidas, principalmente quanto ao quesito “inovação”? Muitos têm afirmado que o jazz parou no tempo, que sobrevive de antigos temas e que as novas idéias continuam ser afogadas pelas entusiásticas improvisações, em que os músicos mostram sua técnica e quase sempre esquecem do mais importante: a idéia musical.

Fica fácil captar melhor essa idéia de mesmice quando nos deparamos com algo como o “The Bad Plus”. Trata-se de um trio de jazz absolutamente surpreendente, e isto é facilmente notado graças à clara prioridade que o grupo dá à idéia principal de cada música, bem como à estrutura que a rodeia. As viagens solísticas egocêntricas ficam em segundo plano.

O “The Bad Plus” prioriza a música, e não o músico. O resultado é uma sonoridade envolvente, imprevisível, e por incrível que pareça: muito simples.

O trio formou-se em 2000 pelo pianista Ethan Iverson, o baixista Reid Anderson e o baterista Dave King, e é famoso por criar, além das músicas próprias, versões de músicas pop e rock (como Queen, Radiohead, Tears For Fears etc..).

Aí vão três maravilhosas obras originais do “The Bad Plus”:

-“Anthem For the Earnest”:
http://www.youtube.com/watch?v=lb-bJlxXDbs

-“Physical Cities”:
http://www.youtube.com/watch?v=81YcNs82kyA&feature=related

-“Dirty Blondie”:
http://www.youtube.com/watch?v=04g1aFNoBZs&feature=related

Bom proveito!