Poderia uma música ser mundialmente adorada, e ao mesmo tempo figurar entre as piores canções?
Situações como esta são até compreensíveis em casos muito específicos e polêmicos. Por exemplo: embora certos gêneros (pops radicalmente comerciais, funks, etc.) tenham fama, existe um contingente proporcional ou maior, que os critica como sendo material artístico inferior, duvidoso, e até mesmo estupidificador. Sem entrar em questões de certo ou errado, é compreensível.
No entanto, o que pensar quando uma canção realmente interessante, melódica, harmônica, é alvo de tantas listas de piores músicas? A canção "Mmm Mmm Mmm Mmm", lançada em 1993, é exemplo clássico dessa estranha dualidade. Apesar de projetar a banda Crash Test Dummies ao estrelato, caiu em pelo menos três importantes listas de músicas ruins (da VH1, da Rolling Stone e da Blender).
Embora particularmente muito bela, contém elementos que podem fazê-la parecer, sei lá, aquele galã de novela que manca e tem caspa; ou aquela musa da TV que tem chulé ou bafo de bode...
Se é a voz bizarra do cantor Brad Roberts, se é a letra esquisitíssima (que fala de crianças que sofrem os mais esdrúxulos problemas, como cabelos brancos, marcas de nascença ou a obrigação de sacudir-se artificialmente em cultos de igreja), o certo é que "Mmm Mmm Mmm Mmm" não passa em branco a nossos ouvidos.
Em toda sua estranheza, eu gosto. E vocês?
Crash Test Dummies - Mmm Mmm Mmm Mmm:
www.youtube.com/watch?v=yhuPiBZHvLE
Bom proveito!
quinta-feira, 22 de julho de 2010
#76 - Tão bela que enfada, ou tão ruim que encanta?
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terça-feira, 12 de maio de 2009
#71 - Rock, Duque e um cavalo
Há outras, no entanto, que acabam sendo rotuladas efusivamente como tal, sem qualquer intenção que não a música. Por exemplo, quem estivesse assistindo a uma corrida de cavalos, se encantasse pelo vigor e velocidade do campeão, e sugerisse inocentemente aos amigos: “Ei, que tal botarmos o nome desse cavalo na nossa banda?”, por algum acaso estaria pretendendo criar algum movimento político, ou fazer honras saudosas a um mártir revolucionário?
Foi exatamente o que ocorreu com a banda escocesa Franz Ferdinand. O cavalo campeão chamava-se Archduke Ferdinand. Acontece que o dito cujo havia sido batizado em homenagem ao arquiduque autríaco Franz Ferdinand, cujo assassinato em Sarajevo, em Junho de 1914, desencadeou uma série de eventos que levaram ao estouro da 1ª Guerra Mundial.
A banda Franz Ferdinand fez questão de dizer que escolheram o nome pela sonoridade, e só. Nada mais preciso, afinal (correndo o risco de ser óbvio e piegas), foi pela sonoridade, e não por ideologias, que a banda tornou-se um marco no ano de 2004, já com o lançamento do primeiro álbum. E não seria justo dizer que eles recuperaram uma sonoridade perdida no rock dos anos 80, já que diversas bandas sempre o fizeram ao longo dos anos... mas se estabelecermos que tais proezas só merecem ser atribuídas a quem faz algo realmente competente, então a informação é válida.
Aí vão minhas favoritas:
Franz Ferdinand – Walk Away:
http://www.youtube.com/watch?v=qII2RBVcEKQ
Franz Ferdinand – Take me Out:
http://www.youtube.com/watch?v=x_9GR9kdZ3o
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 14:40 0 comentários
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segunda-feira, 20 de abril de 2009
#69 - Imagem é quase tudo...
Irônico porque quando se fala em The Cure o que vem à nossa mente é exatamente a imagem forte do grupo, concentrada sobretudo no líder, compositor, guitarrista, pianista e vocalista Robert Smith; e compreensível porque, na verdade, Chris Parry queria aparentemente desfazer um transtorno inicial causado por um importante concurso musical que o The Cure venceu, mas cujos louros (uma gravação oficial) nunca concretizaram-se sob alegação de que a banda só havia vencido por causa da imagem forte que passava.
No fim das contas, o que mais importava (a música) acabou tomando primeiro plano na história toda, e o The Cure alcançou extraordinário sucesso no mundo todo.
A preocupação excessiva com uma sonoridade legítima, mais o fato de Robert Smith ser o cabeça da banda, resultaram em inúmeras modificações na formação da banda, tanto que, atualmente, o único integrante que permanece desde a formação original é o próprio Robert.
Nas músicas, essa concentração criativa se reflete em muitos aspectos que tornam a sonoridade do The Cure interessante. Cada canção é muito precisa e ensimesmada, uma espécie de mosaico cíclico. E claro, uma das marcas registradas do grupo, indício também do valor de Robert como grande melodista: quase todas elas são introduzidas e entremeadas por uma frase limpa de guitarra.
Eis minhas preferidas:
The Cure – "Friday I’m in Love":
http://www.youtube.com/watch?v=TSmfNxmaQHc
The Cure – "A Forest":
http://www.youtube.com/watch?v=NYzQpNol-yo&feature=related
The Cure – "Lullaby":
http://www.youtube.com/watch?v=tYtYe9K6zv4&feature=related
Bom proveito!
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
#61 - Xís
Convenhamos também, entretanto, que os próprios compatriotas do Symphony X, os norte-americanos, os rotulariam do mesmo modo, já que são praticamente desconhecidos na própria casa.
Nem o líder da banda, Michael Romeo (compositor principal e extraordinário guitarrista), consegue definir bem o som do grupo, mas o nome nos dá o plano geral. “Symphony” (sinfonia) revela forte influência clássica/erudita, e o “X” é algo que sabemos ser muito apreciado por fãs de ficção científica ou temas misteriosos e mitológicos. Essas podem ser as linhas gerais.
Talvez pudéssemos enumerar vários outros grupos tão ou mais técnicos instrumentalmente do que o Symphony X... e olhe que eles são bastante refinados, mas o que destaca a banda de todas as outras é uma genialidade melódica singular, e constantemente nos deparamos, ouvindo suas músicas, com trechos magníficos e inspiradores, como:
- O refrão de “The Accolade”, que só vem aos ‘3:35:
http://www.youtube.com/watch?v=SdeijfndRTA
- A hipnose rítmica de “Communion and the Oracle”:
http://www.youtube.com/watch?v=jkRO3lzA2YY&feature=related
- A sublimidade após o frenesi aos ‘3:31 em “The Edge of Forever”:
http://www.youtube.com/watch?v=j0f89fcIayw
Bom proveito!
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
#56 - "Que que deu nesse menino?..."
É tudo muito simples, muito comum... O tipo de coisa que ocorre de maneira repentina e quase ninguém nota. Deve ser igual a visitar parentes e encontrar aquele garotinho de 12 anos que você não vê há 5 anos, e grita: “Meu Deus, o que aconteceu com você?!”.
Sabe-se lá o que ocorreu... Andy McKee tinha 13 anos, e deu na cabeça dele fazer umas aulas de violão. Não houve nada de mais, já que o garoto não dava a mínima para as lições. Um primo (desses primos quaisquer, que todo mundo tem), foi com ele, certo dia, à apresentação de um violonista bacana. Andy gostou do que viu, e comprou uma fita de vídeo com algumas técnicas do homem.
Aí então, assim de repente, como gritar “meu Deus, o que aconteceu com você?!”, deu nisso. McKee tornou-se um violonista compositor, detentor de uma incrível capacidade de fazer com duas mãos o que normalmente necessitaria de quatro.
A música “Drifting”, de seu terceiro CD, já foi assistida mais de 8 milhões de vezes no Youtube.
“Andy McKee – Drifting”:
http://www.youtube.com/watch?v=Ddn4MGaS3N4&feature=related
“Andy McKee – Art of Motion”:
http://www.youtube.com/watch?v=nmE3QaGetn4&feature=channel
Bom proveito!
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quarta-feira, 26 de novembro de 2008
#54 - O quarto tenor fugiu pro rock
Não é possível rotular Freddie Mercury como cantor lírico baseando-se em sua capacidade vocal, que apesar de extraordinária, apresenta em grande parte a roupagem – por vezes lisa, por vezes áspera – do rock. Mas é sim possível colocá-lo neste patamar, se nos detivermos em certos parâmetros claramente notados em suas composições.
Em outras palavras, se a roupagem da voz de Freddie não tem “cara de ópera”, suas músicas muitas vezes estruturam-se na liberdade operística. É exatamente graças à influência da música operística que os maiores sucessos do Queen (compostos por Freddie), são acusados – no bom sentido – de romperem lindamente com as estruturas do rock, tomando rumos inusitados e muitas vezes de cunho narrativo.
Vamos tentar perceber esse aspecto tão significativo de suas músicas, sob dois prismas bem distintos, mas que levam ao mesmo raciocínio:
-Primeiro, a quebra da estrutura convencional rock:
http://www.youtube.com/watch?v=Db65ZsVsLWo&feature=related
-Segundo, numa canção mais convencional, em parceria com a cantora lírica Montserrat Caballé:
http://www.youtube.com/watch?v=mvZGgbF43H8
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 13:26 2 comentários
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
#48 - O vento que cresceu a barba
Parece espantoso que muitos dos fãs de Los Hermanos relatem uma sensação de “invasão” quando envolvidos pelas canções do grupo, e falo de “invasão” no sentido injusto mesmo, como a possível sensação de alguém sentado no meio de uma roda onde todos pudessem ler seus pensamentos. Mas não tenho muita certeza de que este resultado seja tão misterioso...
Uma das características mais notáveis na banda é a precisão com que as letras são assentadas sobre a melodia, bem como seu temas e desenvolvimentos. Em suma, ao mesmo tempo em que as letras criadas não interferem na idéia melódica, elas não perdem substância por uma comum priorização de um elemento ou outro: letra e música convergem perfeitamente.
O resultado disso é que a bela musicalidade da banda prepara nosso terreno emocional para a série de panoramas e imagens a que as letras nos submetem, e é para nós impossível deixar de tentar decifrá-las. E é por culpa deste ímpeto pela explicação que muitas vezes empobrecemos algumas das letras do grupo, atribuindo a elas uma pretensa “complexidade poética”.
Alguns já descobriram a beleza que é apreciá-las em seus sentidos mais óbvios e simples, como a maravilhosa “Além do Que Se Vê”, que Marcelo Camelo (letra e música) compôs para sua mãe pintora: http://www.youtube.com/watch?v=P9lvAQdFwyM
O Los Hermanos tem uma trajetória (ainda que recente) bem interessante. Após um álbum de estréia com estilo musical frenético e meloso (até debochado), veio um segundo disco bastante diferente, mais introspectivo e refinado, cujo mote parecia ser mesmo o susto que acomete o folião quando a festa acaba. A primeira música deste álbum dá esta clara idéia, introduzida por um trombone solitário e triste, que parece lamentar-se num salão vazio e abarrotado de sepentina e confete:
“Los Hermanos - Todo Carnaval Tem Seu Fim”:
http://www.youtube.com/watch?v=J16o9bYS-no
"Casa Pré-Fabricada" (versão de Roberta Sá):
Postado por Gustavo Barcamor às 15:16 2 comentários
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segunda-feira, 11 de agosto de 2008
#47 - De pai para filho
Certo dia, uma notícia chegou de sua ex-esposa. Ela o informou de que iria mudar-se para a França, no intuito de estabelecer melhor um novo relacionamento que estava vivenciando. Quanto a este último detalhe, não houve maiores problemas, mas a notícia abalou Radney de forma terrível, já que seu filho com ela, de três anos, teria de ir embora também.
Sem ver uma saída razoável para a situação, Radney compôs uma canção maravilhosa para o menino, dizendo a ele que a ouvisse todas as noites antes de dormir. E dizem que ele ainda o faz até hoje...
A melodia é surpreendente, e a letra demonstra uma extrema sensibilidade de Radney, intercalando o que seria uma oração noturna e muitos personagens do universo infantil. Seu título, “Godspeed”, é uma expressão antiga, uma despedida que deseja boa jornada e prosperidade. Se a traduzíssemos literalmente, poderia ser “na velocidade de Deus”.
“Radney Foster – Godspeed (Sweet Dreams)”:
http://www.youtube.com/watch?v=eos7FbtuTbo
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 14:20 1 comentários
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
#46 - O Espírito Continua...
Este capítulo começa em Cuba, no ano de 1993, com um triste acidente. Um jovem chamado James Labrie estava há pouco tempo integrado num trabalho no qual podia se considerar feliz e realizado. Cantor desde os 5 anos de idade, dono de um talento inigualável e timbre único, passara considerável tempo pulando de grupo em grupo sem nenhum sucesso, até que em 91 consegue ser contratado como vocalista da banda Dream Theater, que na época já era respeitada como um dos únicos mantenedores consistentes do rock progressivo. Mas sua felicidade não demorou muito para ser fatalmente abalada. Dois anos depois, numa viagem ao citado país de Fidel, sofreu uma gravíssima intoxicação alimentar que, por incrível que pareça, culminou no rompimento de suas cordas vocais.
Tentando tratar-se com um punhado de especialistas, recebeu de todos a triste notícia de que nada mais podiam fazer. Após um tempo de repouso, o Dream Theater entrou em estúdio para um novo álbum, e contrariando todas as recomendações médicas James decidiu participar, e a muito custo conseguiu gravar com a banda. Sem conseguir ficar longe dos palcos, saiu em turnê, e seu desempenho foi desesperador.
Ao final da turnê, James, extremamente deprimido e prejudicado, decidiu largar a banda. No entanto, seus companheiros recusaram-se a aceitar sua saída, e com o comovente apoio que recebeu de todos, conseguiu algum fôlego para seguir em frente. E eis que os músicos do Dream Theater estavam então preparados para dar à luz seu carimbo na história: o álbum “Scenes From a Memory”, lançado em 1999.
Todo o disco conta a história de um homem que sente-se atormentado sem saber o motivo, até que decide fazer uma regressão de memória. A partir daí, as músicas passam a narrar a descoberta de uma vida passada cujos incidentes marcaram o homem, bem como sua jornada pelo inconsciente a fim de encontrar sua paz de espírito.
A temática da imortalidade da alma, da continuidade da vida após a morte, é tratada de forma memorável durante a trajetória do personagem, e a subordinação disto à musicalidade da banda transforrna a audição num momento transcendente. E tal transcendência não se dá pelas antigas “caleidoscopias sonoras” ou pelas ilusões dos ácidos, mas pelo desafio das harmonias e pelo poder de som do grupo.
Contemplemos os três momentos finais deste trabalho, os trechos mais trágico-operísticos de “Scenes From a Memory”, que culminam, em minha humilde opinião, no encerramento mais belo de todos os melhores álbuns do gênero. E nos emocionemos, também, com a valentia do cantor James Labrie, ainda prejudicado na voz, mas vivo de alma:
-Throught My Words / Fatal Tragedy:
http://www.youtube.com/watch?v=XWuCdV5VWWU&feature=related
-The Spirit Carries On:
http://www.youtube.com/watch?v=avPdOAKl8w4&feature=related
-Finally Free:
http://www.youtube.com/watch?v=DM02oyWWxNY&NR=1
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 16:38 3 comentários
#45 - Ótimas Notícias!
Como todo carinha que toca um instrumento, eu também tive uma banda. Ela chamava-se Virthua e durou alguns poucos anos até desfazer-se no tempo.
Na época nosso cantor era Guilherme Rios, e sempre me espantou o talento inigualável que ele tinha, tanto como cantor como na criação de músicas, embora em nossa banda ele fosse muito tímido para mostrá-las.
Depois que a Virthua acabou, muito torci para que ele seguisse adiante, e no fundo sempre achei que alguém com suas características estivesse fadado ao sucesso. Pois bem, poucas coisas dão tanta alegria a alguém como ver um amigo sincero realizar-se.
É com muita felicidade que noticio a participação da banda Líris (cujo vocalista é o dito cujo) hoje (06/08) no Programa do Jô, da rede Globo.
Não tenho dúvidas de que estes rapazes tem tudo para dar um novo fôlego ao rock nacional. Ouçam algumas músicas no link abaixo (recomendo "Simples Assim" e "Vento", minhas preferidas):
Muita sorte e inspiração aos nossos amigos Guiba, Vitão, Mike, Peepo e Nico!
Postado por Gustavo Barcamor às 16:20 3 comentários
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quinta-feira, 10 de julho de 2008
#40 - They sure do brazilian music!
É muito interessante perceber que logo o Angra (para quem muitos torcem o nariz pela opção das letras em inglês) foi um dos grupos de rock que conseguiu englobar elementos de música brasileira em sua sonoridade de um modo objetivo, mantendo tanto a consistência do elemento novo quanto do rock, sem pretensões de mistura que costumam fazer com que alguns rockeiros nada pareçam mais que baiões com guitarra.
Isto ocorreu com o Angra no álbum em questão, chamado “Holy Land”, em que todas as músicas relacionam-se a contar sobre o descobrimento do Brasil, tanto pelo lado europeu quanto pelo lado indígena.
A beleza do disco foi crucial para gravar o Angra como representante absoluto do metal brasileiro, e para botá-los como estrelas de primeira grandeza no já mencionado Japão, atrás apenas de grupos como Guns’ Roses ou U2.
A banda é paulistana, formou-se em 1991 pelo empresário Toninho Pirani, e após drásticas mudanças de formação está atualmente parada. Aí vão algumas de minhas favoritas:
- “Angra – Deep Blue” (album Holy Land):
http://www.youtube.com/watch?v=g051RL2AH6U
- “Angra – Carolina IV” (album Holy Land):
http://www.youtube.com/watch?v=9XCtqvrO_Nk&feature=related
- “Angra – Metal Icarus” (album Fireworks):
http://www.youtube.com/watch?v=lAhEyuA7Smc
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 09:43 1 comentários
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quarta-feira, 9 de julho de 2008
#39 - A menina de cabeça fértil
Para tanto, fez com que ela gravasse sua canção como um single e o lançasse numa edição limitada por um selo desconhecido. Trabalho feito, embora de proporções mirradas, o single chamou a atenção da MCA, que alguns anos depois assinou contrato com a talentosa garotinha.
Alanis Morissette lançou, então, em 1991, seu primeiro disco oficial, aos 17 anos de idade. O trabalho buscava explorar o carisma dela em faixas pop-dance, e a empreitada teve grande sucesso nas paradas. Buscando dar continuidade aos dividendos, veio o segundo disco, também dançante, mas a explosão anterior já dava sinais de desvanecimento.
Alanis viu-se numa crescente maré de desânimo quanto a seu trabalho. Por um período, a partir de 93, morou sozinha e botou-se numa busca incessante por músicos com quem pudesse trabalhar ou que a ajudassem a encontrar uma forma de expressão que lhe desse mais satisfação. Conhecer então o produtor Glen Ballard pôs fim à busca da moça. Encorajando ferozmente Alanis a expressar suas emoções Glen foi aos poucos ajudando-a a compor o que seria um dos álbuns de rock pop mais vendidos da época: o “Jagged Little Pill”, em que quase cada uma das faixas virou hit.
A partir de então, o estilo musical de Alanis Morissette fixou-se numa crueza maior pelo lado instrumental, e numa linha melódica especialmente dramática. Aí vai uma das minhas favoritas:
-“Alanis Morissette – Joining You”
http://www.youtube.com/watch?v=dKVfo9SnH2E&feature=related
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 08:51 0 comentários
quinta-feira, 26 de junho de 2008
#36 - E de ordinário só tem o mundo
Como é bem sabido, o Duran Duran teve uma trajetória milionária, e não demorou muito para que seus integrantes passassem a viver quase que efetivamente em hotéis de luxo. E embora isto pareça fato comum em gente de sucesso, no caso do Duran Duran tomou uma proporção psicologicamente perigosa mas quase invisível. Mais perceptível na atuação geral do cantor Simon Le Bon, é possível sentir um tom de apatia, talvez até de desconexão, principalmente nas músicas do Duran Duran que tem algum cunho social. Ainda assim, por muito tempo será impossível ficar indiferente à musicalidade da banda.
Apesar dos hits de êxito mundo afora, uma bela canção do Duran Duran, curiosamente, só fez sucesso no Brasil. Trata-se de “A Matter of Feeling”. Ouviremos esta e outra que talvez seja a mais conhecida da banda: a extasiante “Ordinary World”.
“Duran Duran – A Matter of Feeling”
http://www.youtube.com/watch?v=tjk1DUgrvmg
“Duran Duran – Ordinary World”
http://www.youtube.com/watch?v=FeXuOLliDro&feature=related
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 09:24 1 comentários
terça-feira, 17 de junho de 2008
#34 - Toma tua guitarra e me siga
No meio destes, Steve Vai surge como um profeta a mostrar para as ovelhinhas como é que se faz. Não há notícias, no meio guitarrístico, de alguém que alie como Steve extrema criatividade, flexibilidade e disciplina fora do comum. Dedicando-se a uma rotina de estudo diário de 8 ou mais horas, Steve impressiona não só na dominação de estilos e técnicas mas, para aqueles que observam o instrumento, é possível perceber em suas músicas que a criação das mesmas transforma seu modo de executá-las e frequentemente nos deparamos com sonoridades inusitadas. Isto é uma marca registrada, já que ouvindo outros grandes guitarristas, percebemos que grande parte das composições destes são advindas de técnicas.
Para Steve, a música origina o resto. Assim, para quem não está familiarizado com o instrumento, seria muito proveitoso ao ouvir prestar muita atenção às diferentes qualidades sonoras, texturas e vogais que ele consegue.
A primeira música sugerida, “For The Love of God”, é sem dúvida sua criação mais bela e famosa. Reza a lenda que Steve, ao ter a inspiração para o tema, ficou três dias sem comer nem dormir, até que concluísse a composição. Talvez este período desesperador tenha dado o nome, que traduzido seria “Pelo Amor de Deus”.
Nunca se sabe se essas lendas são verdade... Mas em se tratando de Steve Vai, e de sua entrega absoluta à guitarra, não me supreenderia se alguém viesse aqui dizer: “Essa lenda é mentira, na verdade ele levou oito dias”.
“Steve Vai – For The Love of God”
http://www.youtube.com/watch?v=avKhKDef9Vo&feature=related
“Steve Vai – Tender Surrender”
http://www.youtube.com/watch?v=Yw74sDWPH7U&feature=related
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 09:57 0 comentários
terça-feira, 10 de junho de 2008
#32 - Três formas de dizer I wish you were here...
No Brasil, a data é comemorada em 12 de Junho por ser véspera do Dia de Santo Antônio, santo português que de tanto pregar a importância da união familiar, acabou com fama de casamenteiro.
No universo musical, a natureza humana demonstra grande interesse pela audição de músicas tristes que as façam refletir submersos no que chama-se modernamente “fossa”, ou que embora tristes e com letras advindas de choros, saudades e ciúmes, as façam, paradoxalmente, suspirar pela sorte de um par já adquirido.
Dentre um tanto de músicas românticas nas quais os sensíveis (ou os manteiga-derretida, grupo no qual declaro-me incluso) esbaldam-se, existe um número interessante de músicas muito famosas com nomes iguais. A este respeito, destaco uma parte da espantosa coleção de “Wish You Were Here”s:
“Wish You Were Here” do “Pink Floyd”:
http://www.youtube.com/watch?v=IXdNnw99-Ic
“Wish You Were Here” do “Blackmore’s Night”:
http://www.youtube.com/watch?v=qoYbVosc93U
E como não poderia faltar: a “Wish You Were Here” do “Bee Gees”
http://www.youtube.com/watch?v=ei7Eq3W5tyE
Escolha sua favorita e bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 13:29 1 comentários
#31 - Rompendo barreiras de aço
Por cerca de dez anos, o grupo seguiu uma carreira sólida, mas em 1998 o Blind Guardian abalou positivamente o gênero lançando o álbum “Nightfall In Middle-Earth”. Neste trabalho surpreendente, a criatividade da banda atinge seu auge. Os velhos padrões do estilo “riff-solo” são trocados por arranjos de guitarra plenamente fluentes, fraseados e intercalando-se com perfeição às melodias vocais. As músicas, apesar de manterem seu clímax nos refrões, são imprevisíveis, e todo esse conjunto de características deve-se, possivelmente, ao conceito buscado para o álbum. Ele baseia-se, em todo, no livro “Silmarillion”, que é nada menos que uma coletânea de escritos de J.R.R. Tolkien, passados em eras da Terra-Média anteriores aos fatos de “O Senhor dos Anéis”. O livro, a propósito, serviu de óbvia inspiração a outra banda, a Marillion (http://www.youtube.com/watch?v=cwNVfNc1IQM)
Esse tipo de conceito acaba subordinando o processo criativo a um segmento narrativo, o que resulta em músicas com estrutura semelhante à ópera.
Mesmo para quem não é fã do estilo, vale a pena conferir. E adiciono também uma canção acústica surpreendente, de álbum anterior, chamada “The Bard Song”, ou “A Canção do Bardo”.
“Thorn”:
http://www.youtube.com/watch?v=6N8NdScs0yk&feature=related
“Nightfall”:
http://www.youtube.com/watch?v=vDGWff9cIvg&feature=related
“The Bard Song (In the Forest)”:
http://www.youtube.com/watch?v=u_tORtmKIjE
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 13:20 1 comentários
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terça-feira, 3 de junho de 2008
#29 - A doce e pacífica falta de assunto...
A letra sobre um indivíduo constrangido por sua falta do que dizer recheia-se de imagens simples, e talvez isto – junto à musicalidade agradável e movimentada – faça nossa mente vagar pelo sossego das coisas cotidianas, como o filme que se viu ou o livro que ainda não se leu.
Apesar de todas as músicas da dupla norueguesa “Kings of Convenience” serem criadas por ambos (Erlend Oye e Eirik Glambek Boe), a canção em questão deve ter tido como principal cabeça Erlend Oye, rapaz que já era famoso na escola, muito antes de meter-se nos palcos, portando seus óculos gigantes e trazendo na mente uma enciclopédia de trivialidades.
Assistir ao clipe de “I’d Rather Dance With You” é uma grande surpresa. Ele busca construir o enredo a partir da sensação de leve humor e dança que a musicalidade traz, tendo o próprio Erlend como personagem central.
-Kings of Convenience – I’d Rather Dance With You:
http://www.youtube.com/watch?v=C9r9sQ6PHOM
-Kings of Convenience – Misread:
http://www.youtube.com/watch?v=2emj7HXv6Ic&feature=related
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 13:12 0 comentários
quarta-feira, 28 de maio de 2008
#28 - ... E pra onde vai o coelhinho branco?
Ao desenvolver uma medicação para tratamentos de alcoolismo e disfunções sexuais, ingeriu acidentalmente um pouco da substância, e viu-se na necessidade de interromper o trabalho devido a uma série de alucinações. Com a substância distribuída, não deu outra... Em pouco tempo a droga (batizada de LSD) estava difundida entre multidões ávidas por despertamento espiritual, contatos com espíritos, arroubos de inspiração, ou simplesmente um período de viagem e diversão fora do comum.
Formara-se aí um movimento grande, porém sem nome, que só foi batizado oficialmente (de Movimento Psicodélico) com o bombástico surgimento de uma banda estadunidense chamada Jefferson Airplane.
O grupo formou-se em 1965, e dois anos depois já estava estourado nas paradas, e sendo pioneiros em montes de experimentos musicais na mídia, entre eles a aparição num programa de TV tocando em frente a um chroma key (aquele efeito em que uma cor padrão na imagem é substituída por outra), com um fundo hipnótico de cores, recurso que foi imitado por uma infinidade de bandas a partir de então.
O Jefferson Airplane era um grupo assumidamente adepto dos alucinógenos, e membros chegaram a ser expulsos só por recusarem-se a usar drogas.
Tolo seria aquele que atribuísse a qualidade e ousadia da banda a tais viagens, já que qualquer um que observe o cenário atual pode constatar que dopar a mente não traz talento a ninguém... Eu, particularmente, já me sinto “dopado” o bastante pela vocalista bonitona...
A despeito disso, a temática do Jefferson Airplane ao menos é interessante, e suas músicas bastante memoráveis. Aí vão links das suas canções mais famosas:
“White Rabbit” (reparem a perfeita junção da letra com Alice no País das Maravilhas):
http://www.youtube.com/watch?v=3LdwGUXoXyA
“Somebody To Love”:
http://www.youtube.com/watch?v=JUbMWtUyIIE&feature=related
Ambas ao vivo:
http://www.youtube.com/watch?v=Q1cfTMdjkYM&feature=related
Interessante versão de “Somebody to Love” pelos Ramones, na verdade a primeira com que tive contato, ouvindo o CD “Acid Eaters” do meu primo:
http://www.youtube.com/watch?v=tdRFeprn_xc
Bom proveito, e diga não às drogas (principalmente as auditivas)!
Postado por Gustavo Barcamor às 16:32 2 comentários
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segunda-feira, 21 de abril de 2008
#19 - A Gênese: Reunião e Explosão
Era meados de 1967 e o propósito inicial de Peter Gabriel (voz e flauta), Mike Rutherford (baixo) e Tony Banks (teclados), era compor canções para vendê-las a artistas e gravadoras. Como ninguém queria comprá-las, decidiram eles próprios formarem uma banda e pô-las em prática. Assim surgiu o Genesis, que viria a tornar-se uma das melhores bandas de rock progressivo de todos os tempos. Duas tragetórias, no entanto, muito chamam a atenção na carreira do Genesis. São os dois gênios musicais Peter Gabriel e Phil Collins.
O vocalista Peter Gabriel era uma atração à parte em todos os shows da banda, imprimindo com maestria o elemento teatral às apresentações, ao ponto de os outros membros questionarem o uso de tais recursos.
Phil Collins, por sua vez, pode ser apresentado apenas mencionando-se que durante os testes do Genesis para encontrar o primeiro baterista, os outros integrantes já sentiram que era ele o cara ideal, após verem-no simplesmente tomar as baquetas e sentar-se à bateria.
O Genesis seguiu firme e forte por um tempo, após uns trancos e barrancos iniciais, até que Peter Gabriel decidiu deixar o grupo, querendo dedicar-se mais à vida pessoal. Ele chegou a admitir, muitos anos depois, que sentiu intensos ciúmes com o fato do Genesis ter estourado no mundo inteiro logo após sua saída, afinal, esperava que sua ausência tivesse maus impactos. E boas surpresas coloriram esta transição, já que Phil Collins, o baterista, assumiu os vocais. Isto ocorreu pois ao comandar os testes na busca de um cantor novo, ele sempre mostrava aos candidatos como cantar, e na verdade sempre cantava melhor que todos. Sob o comando de Phil, o Genesis foi aos poucos tomando um aspecto mais pop, fato que agradou a muitos e desagradou fãs mais conservadores.
Após anos de constante ascendência, Phil começa a enfrentar sérios problemas pessoais, e pede ao grupo para que possa fazer uma pausa, até que consiga resolver-se. Sua esposa, desagradada com sua constante ausência pelas turnês, queria divórcio. Phil fez o possível para recuperar o casamento, mas a mulher, por fim, optou pela separação. Entristecido, o cantor passou uma temporada isolado em uma casa, e escreveu diversas cartas para a mulher. Decidindo-se por não enviá-las, foi compondo canções com elas(http://www.youtube.com/watch?v=jXBuhk-8sWs), até que o produtor do Genesis, em uma visita, ouviu as mesmas e aconselhou-o a gravar um álbum. Assim começou a muito exitosa carreira solo de Phil Collins, como cantor pop. Suas músicas ganharam não só temática romântica, mas também crítica social, como no hit (http://www.youtube.com/watch?v=ftlYLcEW_I4&feature=related).
Paralelamente, o ex-Genesis Peter Gabriel estourava nas paradas (também como cantor pop) com um hit cujo clipe tornou-se um marco, tamanha sua criatividade. Tratava-se da maravilhosa “Sledgehammer” (http://www.youtube.com/watch?v=hqyc37aOqT0)
Nos links a seguir poderemos analisar alguns aspectos da grande mudança de estilo ocorrida no Genesis desde seu início até seus momentos finais:
-Genesis - Firth of Fifth (da era Peter Gabriel, é uma das criações mais incríveis da banda, em que podemos sentir a capacidade criativa do tecladista Tony Banks. Destaque para o apoteótico solo de guitarra em 6:25, do lendário Steve Hackett):
http://www.youtube.com/watch?v=5vtfLIxV7uo
-Genesis – Mama (da era Phil Collins mais adiantada. A música fala sobre a atração de um jovem por uma prostituta mais velha. Ela tem um aspecto eletrônico, e sua intensidade é uma crescente hipnótica):
http://www.youtube.com/watch?v=lx7ENNe5VhY
-Solo de Bateria (Phil Collins mostrando o que sabe, em dueto com Chester Thompson):
http://www.youtube.com/watch?v=XUR4k0LyTdc&feature=related
Bom proveito!
Postado por Gustavo Barcamor às 13:11 4 comentários
segunda-feira, 7 de abril de 2008
#16 - O lado experimental dos Beatles
John Lennon entraria no estúdio, para encontrar seus companheiros de banda, com uma fita onde gravara algo que gostaria de mostrar. Começava aí a gravação da primeira música que integraria o histórico álbum “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”.
John havia composto uma canção que falava sobre um orfanato em cujos campos costumava brincar quando criança. O lugar chamava-se “Strawberry Fields”, era mantido pelo Exército da Salvação e ficava bem próximo de onde Lennon morava.
A conclusão da gravação da música “Strawberry Fields Forever” não foi nada fácil. Dezenas de versões foram tentadas, e uma centena de takes experimentados. Foi então que Lennon pediu ao engenheiro de som George Martin que completasse a música juntando dois takes, que eram seus preferidos. Aparentemente seria uma tarefa comum de edição, mas havia um problema: os dois takes eram muitíssimo diferentes, inclusive na velocidade e tonalidade.
George informou a Lennon da impossibilidade da junção, mas o beatle apenas disse tranquilamente: “ah… eu sei que você pode dar um jeito nisso…” E George arranjou um jeito. Modificou a velocidade de um dos takes, de modo apenas a equiparar a tonalidade, e assim a canção foi concluída.
“Strawberry Fields Forever” é sem dúvida uma música bastante apreciada, mas tenho a impressão de que não é tanto quanto poderia. Em opinião pessoal, não sei dizer quanto da integridade da idéia musical perdeu-se em meio ao experimentalismo instrumental que marcou não só a ela, mas todo o “Sgt. Pepper’s”.
Propondo esta reflexão, postarei não só o link para o original, mas também uma versão talvez mais “pura”, feita pelo competentíssimo Ben Harper, em trabalho que integrou a trilha sonora do comovente filme “I’m Sam” (“Uma Lição de Amor”). O filme conta a história de um homem com problemas mentais que acaba tendo acidentalmente uma filha, e vê-se diante da tarefa de cuidar dela praticamente sozinho. Toda a trilha do mesmo é composta por canções dos Beatles, e a diretora afirma que assim o quis pois ao entrevistar diversos doentes mentais, percebeu que praticamente todos eles tinham os Beatles como banda favorita.
Links:
- Strawberry Fields Forever (reparem a diferença brusca que ocorre em 1:00, onde provavelmente foi feita a junção dos takes)
http://www.youtube.com/watch?v=Ywg-PdeGVL0
- Versão de Ben Harper
http://www.youtube.com/watch?v=Lcn1-6eWR98
http://www.youtube.com/watch?v=uxMzYVZmGos (cena do filme com a música)
- Michelle (essa vai de lambuja, porque foi a primeira música dos Beatles que toquei, aos onze anos):
http://www.youtube.com/watch?v=_Xl8YtgDAKc
Bom proveito!
“Let me take you down, 'cause I'm going to Strawberry Fields.
Postado por Gustavo Barcamor às 09:32 1 comentários