quinta-feira, 26 de junho de 2008

#36 - E de ordinário só tem o mundo


Na década de 80 o advento das sonoridades eletrônicas teve seu auge. Ainda assim, um dos grupos tidos como carro-chefe deste movimento poderia até não ser classificado como tal. A banda inglesa Duran Duran (nome baseado no vilão Dr. Durand Durand, do filme Barbarella) marcou substancialmente o mundo da música pop com uma combinação de fatores invejáveis a qualquer artista ou grupo, não importa o gênero: a dose controlada e correta de eletrônicos, melodias notáveis e arranjos bastante precisos.

Como é bem sabido, o Duran Duran teve uma trajetória milionária, e não demorou muito para que seus integrantes passassem a viver quase que efetivamente em hotéis de luxo. E embora isto pareça fato comum em gente de sucesso, no caso do Duran Duran tomou uma proporção psicologicamente perigosa mas quase invisível. Mais perceptível na atuação geral do cantor Simon Le Bon, é possível sentir um tom de apatia, talvez até de desconexão, principalmente nas músicas do Duran Duran que tem algum cunho social. Ainda assim, por muito tempo será impossível ficar indiferente à musicalidade da banda.

Apesar dos hits de êxito mundo afora, uma bela canção do Duran Duran, curiosamente, só fez sucesso no Brasil. Trata-se de “A Matter of Feeling”. Ouviremos esta e outra que talvez seja a mais conhecida da banda: a extasiante “Ordinary World”.

“Duran Duran – A Matter of Feeling”
http://www.youtube.com/watch?v=tjk1DUgrvmg

“Duran Duran – Ordinary World”
http://www.youtube.com/watch?v=FeXuOLliDro&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 24 de junho de 2008

#35 - Houston, we have a song!


Em 26 de maio de 1969 a NASA lançava ao espaço sua quarta missão tripulada: a Apollo 10. Com destino à lua, a canção que embalava a tripulação dentro da nave não poderia ser outra: “Fly Me to the Moon”.

A música, composta por Bart Howard em 1954, era tão bela que em poucos anos tornou-se um dos mais adorados standards de jazz. O próprio Vince Guaraldi (assunto do post #15) fez sua versão para a trilha de um dos desenhos de Snoopy, cujos personagens serviram de mascotes para a missão Apollo 10.

Ao longo dos anos, incontáveis cantores emprestaram suas vozes a “Fly Me to the Moon”, e aqui vão minhas duas favoritas:

-Frank Sinatra:
http://www.youtube.com/watch?v=1rAsoLm1Ges

-Karolina Pasierbska:
http://www.youtube.com/watch?v=rlU5SKE4eb4&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 17 de junho de 2008

#34 - Toma tua guitarra e me siga


Não é novidade que conforme o mundo do rock foi estabelecendo a febre dos “guitar heroes” (termo usado pra designar os guitarristas que tinham talento e mais fama, às vezes, que todos os membros de uma banda), foi surgindo no mundo uma quantidade infindável de tocadores ávidos por velocidade nos dedos, fator que engana os ouvidos inadvertidos e substitui o vazio de sentido musical de quem tem mais ego que criatividade.

No meio destes, Steve Vai surge como um profeta a mostrar para as ovelhinhas como é que se faz. Não há notícias, no meio guitarrístico, de alguém que alie como Steve extrema criatividade, flexibilidade e disciplina fora do comum. Dedicando-se a uma rotina de estudo diário de 8 ou mais horas, Steve impressiona não só na dominação de estilos e técnicas mas, para aqueles que observam o instrumento, é possível perceber em suas músicas que a criação das mesmas transforma seu modo de executá-las e frequentemente nos deparamos com sonoridades inusitadas. Isto é uma marca registrada, já que ouvindo outros grandes guitarristas, percebemos que grande parte das composições destes são advindas de técnicas.

Para Steve, a música origina o resto. Assim, para quem não está familiarizado com o instrumento, seria muito proveitoso ao ouvir prestar muita atenção às diferentes qualidades sonoras, texturas e vogais que ele consegue.

A primeira música sugerida, “For The Love of God”, é sem dúvida sua criação mais bela e famosa. Reza a lenda que Steve, ao ter a inspiração para o tema, ficou três dias sem comer nem dormir, até que concluísse a composição. Talvez este período desesperador tenha dado o nome, que traduzido seria “Pelo Amor de Deus”.

Nunca se sabe se essas lendas são verdade... Mas em se tratando de Steve Vai, e de sua entrega absoluta à guitarra, não me supreenderia se alguém viesse aqui dizer: “Essa lenda é mentira, na verdade ele levou oito dias”.

“Steve Vai – For The Love of God”
http://www.youtube.com/watch?v=avKhKDef9Vo&feature=related

“Steve Vai – Tender Surrender”
http://www.youtube.com/watch?v=Yw74sDWPH7U&feature=related

Bom proveito!

#33 - O que passou calou, e o que virá dirá.


A mocinha que estudava piano e canto foi para a Itália, em busca do belcanto, mas resolveu deixar tudo para trás e mostrar por lá algum repertório brasileiro. Fez sucesso antes mesmo de lançar qualquer álbum.

A carioca Marisa Monte, tida pela revista Rolling Stone como a melhor cantora brasileira da atualidade, envolve-nos em intimismo e graça. Sua trajetória pelo estudo de voz lírica é perceptível em seu perfeccionismo e precisão vocal, mas que é conciso. Em outras palavras, Marisa faz o que considero o ato mais nobre dos seres humanos de voz privilegiada: colocar seu material em favor da música, e não usar uma boa música para exibir voz.

A sugestão aqui é uma canção feita em parceria com Carlinhos Brown (parceiro também nos Tribalistas, ainda com Arnaldo Antunes). O mais surpreendente em “Pra Ser Sincero” é o desenho harmônico (combinação de notas) que acompanha e abraça a melodia. É de causar sensações indescritíveis, à medida em que nos envolvemos por ele, por isso é interessante, para aqueles que não a conhecem, ouvirem três ou mais vezes. É uma experiência muito válida, já que a maioria de nós costuma ligar mais para letra e melodia.

Esta é a prova de que uma melodia não traz em si (como já ouvi músicos dizerem) a harmonia que a ela corresponde. Traz, é claro, apenas um conjunto sonoro que é possível entrever e construir à primeira audição.

“Marisa Monte – Pra Ser Sincero”
http://www.youtube.com/watch?v=Lk3jpgb-0iE

“Marisa Monte – Vilarejo”
http://www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 10 de junho de 2008

#32 - Três formas de dizer I wish you were here...


O Dia dos Namorados é uma data cuja comemoração remonta a São Valentim, bispo católico que, no século III d.C., contrariou a ordem do rei Claudio Segundo que proibia casamentos (com objetivo de viabilizar a criação de grandes exércitos). O bispo casava os apaixonados secretamente, mas acabou decapitado no ano 270.

No Brasil, a data é comemorada em 12 de Junho por ser véspera do Dia de Santo Antônio, santo português que de tanto pregar a importância da união familiar, acabou com fama de casamenteiro.

No universo musical, a natureza humana demonstra grande interesse pela audição de músicas tristes que as façam refletir submersos no que chama-se modernamente “fossa”, ou que embora tristes e com letras advindas de choros, saudades e ciúmes, as façam, paradoxalmente, suspirar pela sorte de um par já adquirido.

Dentre um tanto de músicas românticas nas quais os sensíveis (ou os manteiga-derretida, grupo no qual declaro-me incluso) esbaldam-se, existe um número interessante de músicas muito famosas com nomes iguais. A este respeito, destaco uma parte da espantosa coleção de “Wish You Were Here”s:

“Wish You Were Here” do “Pink Floyd”:
http://www.youtube.com/watch?v=IXdNnw99-Ic

“Wish You Were Here” do “Blackmore’s Night”:
http://www.youtube.com/watch?v=qoYbVosc93U

E como não poderia faltar: a “Wish You Were Here” do “Bee Gees
http://www.youtube.com/watch?v=ei7Eq3W5tyE

Escolha sua favorita e bom proveito!

#31 - Rompendo barreiras de aço


Muitas bandas de rock pesado conseguiram quebrar certos paradigmas, mas talvez o grupo que mais tenha jogado pro ar as estruturas do Metal seja o Blind Guardian. A banda formou-se por volta de 1984, na Alemanha, e teve talento para estabelecer-se no cenário musical lá pelas rebarbas de grupos como Helloween, banda conterrânea e formada mais ou menos na mesma época (http://www.youtube.com/watch?v=-Dl6CLWLMzk).

Por cerca de dez anos, o grupo seguiu uma carreira sólida, mas em 1998 o Blind Guardian abalou positivamente o gênero lançando o álbum “Nightfall In Middle-Earth”. Neste trabalho surpreendente, a criatividade da banda atinge seu auge. Os velhos padrões do estilo “riff-solo” são trocados por arranjos de guitarra plenamente fluentes, fraseados e intercalando-se com perfeição às melodias vocais. As músicas, apesar de manterem seu clímax nos refrões, são imprevisíveis, e todo esse conjunto de características deve-se, possivelmente, ao conceito buscado para o álbum. Ele baseia-se, em todo, no livro “Silmarillion”, que é nada menos que uma coletânea de escritos de J.R.R. Tolkien, passados em eras da Terra-Média anteriores aos fatos de “O Senhor dos Anéis”. O livro, a propósito, serviu de óbvia inspiração a outra banda, a Marillion (http://www.youtube.com/watch?v=cwNVfNc1IQM)

Esse tipo de conceito acaba subordinando o processo criativo a um segmento narrativo, o que resulta em músicas com estrutura semelhante à ópera.

Mesmo para quem não é fã do estilo, vale a pena conferir. E adiciono também uma canção acústica surpreendente, de álbum anterior, chamada “The Bard Song”, ou “A Canção do Bardo”.

“Thorn”:
http://www.youtube.com/watch?v=6N8NdScs0yk&feature=related

“Nightfall”:
http://www.youtube.com/watch?v=vDGWff9cIvg&feature=related

“The Bard Song (In the Forest)”:
http://www.youtube.com/watch?v=u_tORtmKIjE

Bom proveito!

terça-feira, 3 de junho de 2008

#30 - Finalmente, Romance nas Estrelas!


Não há dúvidas de que a trilha sonora da série cinematográfica “Guerra nas Estrelas” foi o que tornou John Williams o nome mais popular do cenário, e teve o feito de trazer a música orquestrada para o cotidiano dos jovens que alienavam-se cada vez mais no rock. Em 1977 o primeiro filme foi lançado, mas ele era, na verdade, a quarta parte de uma saga. As partes 5 e 6 vieram em 1980 e 1983.

Mas não é desta época que quero falar. George Lucas, decidido por lançar as três partes iniciais para fechar sua saga, trouxe ao mundo Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999), Star Wars – Episódio II: O Ataque dos Clones (2002) e Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith (2005).

Mas o fato interessante é que esta nova fase de trabalhos teve uma oportunidade pela qual o mestre John Williams sentiu-se muito emocionado e cativado, especificamente para o Episódio II: em nenhum dos quatro filmes produzidos anteriormente havia sequer um tema romântico (ou tema de amor). Em “O Ataque dos Clones”, John comporia uma melodia para ilustrar o amor entre Padmé Amidala e Anakin Skywalker, ambos vivendo um romance proibido, trágico, de que viriam a nascer Luke Skywalker e a princesa Léia. Padmé falece no parto, e Anakin torna-se o antológico vilão Darth Vader.

Para este romance, John Williams compôs o que é, sem dúvida, um dos temas de amor mais cativantes e inspirados de que teremos notícia em muito tempo. Recheado de texturas e facetas, a música “Across The Stars” conduz-nos através de toda uma gama de sensações dramáticas...

... O momento de angústia que parece surgir em 1:39, mas que imediatamente torna-se um sorriso breve... O momento de tensão e ira que parece afogar o tema principal que emerge rarefeito de 2:04 a 2:42, trecho em que vai, pouco a pouco, mutando-se do lirismo para o marcial, dando talvez uma prévia da transformação de Anakin em Darth Vader.

-John Williams - Across The Stars:
http://www.youtube.com/watch?v=mXIpxrDYii8&feature=related

Bom proveito, e pegue o lencinho...

#29 - A doce e pacífica falta de assunto...


Lembro-me da primeira vez em que a ouvi. O fato de o Inglês não ser minha língua natural pregou-me uma peça na mente, e a frase inicial da canção me pareceu “eu devia ter dançado contigo, e depois conversado”. Dei uma leve risada... Embora a tradução correta tenha me vindo depois, esta primeira impressão sobre a bonita “I’d Rather Dance With You” (cuja frase citada é “eu preferia ter dançado contigo, em vez de conversar contigo”) ficou marcada.

A letra sobre um indivíduo constrangido por sua falta do que dizer recheia-se de imagens simples, e talvez isto – junto à musicalidade agradável e movimentada – faça nossa mente vagar pelo sossego das coisas cotidianas, como o filme que se viu ou o livro que ainda não se leu.

Apesar de todas as músicas da dupla norueguesa “Kings of Convenience” serem criadas por ambos (Erlend Oye e Eirik Glambek Boe), a canção em questão deve ter tido como principal cabeça Erlend Oye, rapaz que já era famoso na escola, muito antes de meter-se nos palcos, portando seus óculos gigantes e trazendo na mente uma enciclopédia de trivialidades.

Assistir ao clipe de “I’d Rather Dance With You” é uma grande surpresa. Ele busca construir o enredo a partir da sensação de leve humor e dança que a musicalidade traz, tendo o próprio Erlend como personagem central.

-Kings of Convenience – I’d Rather Dance With You:
http://www.youtube.com/watch?v=C9r9sQ6PHOM

-Kings of Convenience – Misread:
http://www.youtube.com/watch?v=2emj7HXv6Ic&feature=related

Bom proveito!