quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

#60 - A banda de um homem só


Uma situação hipotética...

Imagine que eu te convide, empolgadíssimo, para ir comigo a um show. Você me pergunta do que se trata, e eu respondo que é de um cantor maravilhoso, filho do primeiro barítono negro a obter reconhecimento. Digo que é imperdível, já que o homem tem uma capacidades vocal extraordinária (cerca de 4 oitavas), e que além de tudo detém uma misteriosa técnica oriental de vocalizar, sozinho, mais de uma nota ao mesmo tempo.

Talvez você fique empolgado. E lá vamos nós, felizes.

Agora, o que você sentiria se, ao chegar ao tal show, se deparasse com um palco absolutamente vazio? E o que pensaria, então, quando entrasse finalmente o tal cantor, e ele viesse com nada além de um microfone, e começasse a fazer uns passinhos desajeitados, e a soltar uns murmúrios sem sentido?

E se eu garantisse que, nos dois minutos seguintes você já estaria provavelmente com vontade de aplaudi-lo de pé?

Acreditaria? Então veja com os próprios olhos, e ouça com os próprios ouvidos...

Com vocês, o maestro Bobby McFerrin:

Improvisação:
http://www.youtube.com/watch?v=MVVUMNv1t9w

Invenções Espontâneas:
http://www.youtube.com/watch?v=5VfyMPHzYdQ&feature=related

“Bobby McFerrin – Drive”:
http://www.youtube.com/watch?v=LtXrKo8Btfc&feature=related

“Bobby McFerrin – Ave Maria”:
http://www.youtube.com/watch?v=PgvJg7D6Qck&feature=related

Bom proveito!

#59 - Basil - O Bárbaro


Eu aposto com toda segurança: se você perguntar a qualquer fã de RPG ou temas medievais, qual é a trilha sonora favorita dele, o indivíduo que não responder “Conan – O Bárbaro” só o fará por nunca tê-la ouvido.

Esta obra musical antológica foi composta por Basil Poledouris, um grego criado nos EUA entre o som do órgão de sua igreja, alguns pequenos encargos eclesiásticos e aulas de piano.

O que mais impressiona no estilo de Basil é sua capacidade de mergulhar tão fundo, e com tanta propriedade, em aspectos extremamente distintos da música. A trilha de “Conan – O Bárbaro” é um resumo desta sua genialidade, que vai das mais potentes forças telúricas ao mais sublime lirismo.

Sua filmografia (curta para um artista de seu nível) também reflete esse extremismo, já que nela há necessariamente filmes bastante adversos entre si (“Conan” e “Free Willy”, ou “Robocop” e “A Lagoa Azul”).

A seguir vão links para sua obra-prima, algumas de minhas partes favoritas de “Conan – O Bárbaro”. Por último posto um vídeo raríssimo, feito por um espectador: o próprio Basil regendo seu tema mais famoso e recebendo uma das mais longas ovações de sua vida, pouco antes de falecer em 2006.

“Conan, O Bárbaro – Anvil of Crom”:
http://www.youtube.com/watch?v=sHDmXtW9Yx0

“Conan, O Bárbaro – Theology / Civilization”:
http://www.youtube.com/watch?v=Gur7kJythgM&feature=related

“Conan, O Bárbaro – Wifeing”:
http://www.youtube.com/watch?v=4HOauI2KBS0

Basil Poledouris regendo:
http://www.youtube.com/watch?v=NaBBQsRvwkU&feature=related

Bom proveito!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

#58 - Boas Festas!


Gostaria de, em primeiro lugar, desejar a todos um Feliz Natal. E em segundo lugar, gostaria de sugerir que, em meio a tantas correrias naturais pelos produtos costumeiros das Festas, todos pudéssemos, no mínimo, tirar alguns instantes para refletirmos sobre a razão de existência desta data.

Esquecendo discussões inúteis sobre datações, há pouco mais de dois mil anos veio ao mundo um homem que dividiu a contagem dos anos em Antes e Depois, por nos ensinar a amar.

Jesus de Nazaré dividiu a História Planetária por inverter totalmente o paradigma moral da época. Ao invés de “olho por olho, dente por dente”, o amor incondicional e o perdão tornaram-se as novas Leis Humanas e o mais difícil dos desafios íntimos que temos de enfrentar.

Tamanho é o absolutismo de seu ensinamento que ainda hoje raros são aqueles que conseguem pôr em prática. Ainda assim, o desafio está colocado, não como uma lei religiosa vazia, mas como o único caminho para a felicidade verdadeira (a coletiva) e para a evolução do mundo.

Existem muitas músicas natalinas, e gostaria de postar uma de minhas favoritas numa versão mais moderna que achei bem bonita. E também uma clássica homenagem de Bach ao Mestre da Humanidade.

“God Rest Ye Merry Gentlemen”(autor desconhecido):
http://www.youtube.com/watch?v=01uoLNxSLrY

“Bach – Jesus Alegria dos Homens”:
http://www.youtube.com/watch?v=DNdjML2kquc&feature=related

“Ame ao próximo como a ti mesmo, e a Deus sobre todas as coisas.”

Feliz natal a todos!

#57 - Bicho do mato


E aquele jovem que seria advogado no Rio de Janeiro decidiu largar tudo e voltar para sua terra. Por quê? Ideologia, epifania...?

Somente o talento de Almir Sater nos fornece a pista para explicar tamanho risco... deixar uma metrópole importante, um curso importante, numa idade tão decisiva, para voltar à sua casa: um lugar tão remoto aonde, na maior parte do ano, só se pode chegar de avião.

Ao ouvir as músicas de Almir, pode-se compreender perfeitamente o universo que povoa seu íntimo, e este universo é sua terra natal. Seu lar de origem é tão perdido na imensidão pantaneira que os indivíduos lá são obrigados a viver aglutinados à natureza e a obedecerem rigorosamente os seus ciclos. Lá também perde-se a noção de “propriedade”, e a única coisa que se consegue chamar de “casa” é a paisagem.

As músicas de Almir Sater são uma tradução gritante deste contexto. Sua voz é pacífica, seu toque de viola é brilhante, e suas letras a poesia da natureza.

-“Terra de Sonhos”:
http://www.youtube.com/watch?v=Vj4oCRUbrno

-“Trem do Pantanal”:
http://www.youtube.com/watch?v=NcfFvcxOnSM
Bom proveito!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

#56 - "Que que deu nesse menino?..."


Não seria mesmo fácil encontrar uma forma empolgante de falar sobre Andy McKee, ou de narrar sua ainda curta história musical.

É tudo muito simples, muito comum... O tipo de coisa que ocorre de maneira repentina e quase ninguém nota. Deve ser igual a visitar parentes e encontrar aquele garotinho de 12 anos que você não vê há 5 anos, e grita: “Meu Deus, o que aconteceu com você?!”.

Sabe-se lá o que ocorreu... Andy McKee tinha 13 anos, e deu na cabeça dele fazer umas aulas de violão. Não houve nada de mais, já que o garoto não dava a mínima para as lições. Um primo (desses primos quaisquer, que todo mundo tem), foi com ele, certo dia, à apresentação de um violonista bacana. Andy gostou do que viu, e comprou uma fita de vídeo com algumas técnicas do homem.

Aí então, assim de repente, como gritar “meu Deus, o que aconteceu com você?!”, deu nisso. McKee tornou-se um violonista compositor, detentor de uma incrível capacidade de fazer com duas mãos o que normalmente necessitaria de quatro.

A música “Drifting”, de seu terceiro CD, já foi assistida mais de 8 milhões de vezes no Youtube.

“Andy McKee – Drifting”:
http://www.youtube.com/watch?v=Ddn4MGaS3N4&feature=related

“Andy McKee – Art of Motion”:
http://www.youtube.com/watch?v=nmE3QaGetn4&feature=channel

Bom proveito!

#55 - A canção de todo mestre


Hoje podemos enumerar diversos filmes que tratam do tema “Mestres & Alunos”. Temos “A Sociedade dos Poetas Mortos”, “Mentes Perigosas”, “Adorável Professor”, “Escritores da Liberdade”, etc...

O que muitos de nós não sabemos, é que este gênero ganhou destaque graças ao filme “Ao Mestre com Carinho”, de 1966, e estrelado por Sidney Poitier, o primeiro ator negro a receber um Oscar de melhor ator principal.

O filme, que já é belíssimo por si, vem adocicado por uma maravilhosa canção, cuja intérprete (Lulu) é mesmo a própria atriz que faz o papel da aluna que canta no final. A letra de “To Sir, With Love” fala sobre uma transição para a maturidade, e da incapacidade de se agradecer aquele que tornou possível esta transição.

A música (composta por Don Black e Marc London, escritor do “The Muppet Show”) alcançou imediatamente o topo das paradas, e até hoje é possível para muitos lembrarem-se de tê-la ouvido em algum lugar... em alguma época...

“Lulu – To Sir, With Love”:
http://www.youtube.com/watch?v=AQztUCuXzKU&feature=related

Bom proveito!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

#54 - O quarto tenor fugiu pro rock


Quem disser que Freddie Mercury é um cantor bastante operístico, dificilmente será criticado. Ainda assim, a despeito do inigualável talento do cantor (inclusive como compositor), é válido perguntar de onde exatamente surge a associação entre seu estilo e a ópera.

Não é possível rotular Freddie Mercury como cantor lírico baseando-se em sua capacidade vocal, que apesar de extraordinária, apresenta em grande parte a roupagem – por vezes lisa, por vezes áspera – do rock. Mas é sim possível colocá-lo neste patamar, se nos detivermos em certos parâmetros claramente notados em suas composições.

Em outras palavras, se a roupagem da voz de Freddie não tem “cara de ópera”, suas músicas muitas vezes estruturam-se na liberdade operística. É exatamente graças à influência da música operística que os maiores sucessos do Queen (compostos por Freddie), são acusados – no bom sentido – de romperem lindamente com as estruturas do rock, tomando rumos inusitados e muitas vezes de cunho narrativo.

Vamos tentar perceber esse aspecto tão significativo de suas músicas, sob dois prismas bem distintos, mas que levam ao mesmo raciocínio:

-Primeiro, a quebra da estrutura convencional rock:
http://www.youtube.com/watch?v=Db65ZsVsLWo&feature=related

-Segundo, numa canção mais convencional, em parceria com a cantora lírica Montserrat Caballé:
http://www.youtube.com/watch?v=mvZGgbF43H8

Bom proveito!

#53 - Casamentos perfeitos, filhos notáveis


Era início da década de 60, e quatro amigos (as garotas Michelle e Cass; e os garotos John e Denny) assistiam televisão. De repente, surge uma entrevista com os lendários motoqueiros Hell’s Angels. As meninas agitam-se com a visão de um belo exemplar masculino encasacado que diz: “Aqui nós chamamos nossas mulheres de ‘mamas’!”. Imediatamente, Michelle e Cass suspiram, dizendo em uníssono o quanto adorariam ser “mamas”.

E a questão foi de pura lógica: se elas seriam “mamas”, restaria a John e Denny serem os “papas”. E assim surgiu o “The Mamas & the Papas”, grupo vocal que criava suas próprias canções, e não bastasse a beleza das mesmas, davam a elas uma dinâmica de vozes que tornou-se marca registrada na história da música.

O “The Mamas & the Papas” foi um dos únicos grupos norte-americanos que conseguiu competir na época, em primeira grandeza, com a “invasão britânica” que dominava as paradas de sucesso (e encabeçada, para se ter uma idéia, pelos Beatles).

Sua maior obra-prima é, sem dúvida, a canção “Califórnia Dreamin’”, exemplo básico e clássico da genialidade com que construíam o jogo das vozes:

http://www.youtube.com/watch?v=dN3GbF9Bx6E

- “Monday, Monday”:
http://www.youtube.com/watch?v=LW7NpsHR3K0

Bom proveito!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

#52 - A voz na Escuridão


Era uma tarde comum na comuna rural de Lajatico, Itália. Num pequeno campo improvisado, alguns garotos jogavam futebol.

A princípio, a meninada torcia o nariz quando o jovenzinho Andrea oferecia-se para jogar. Diziam que ele tinha um problema de nome esquisito, que o fazia enxergar muito mal. Goleiro, nem pensar... Com o tempo haviam se acostumado. Naquele dia, porém, o destino selaria sua sentença... Numa emocionante jogada de ataque, um chute poderoso e certeiro fez a bola atingir a cabeça de Andrea, e ele ficou definitivamente cego.

Talvez aquele que não possa ouvir o que vem de fora, possa ouvir melhor o que vem de dentro, como Beethoven. E se com a visão dá-se o mesmo, talvez tenhamos boa explicação para o excepcional talento que o garoto cego passou a demonstrar em sua emoção e voz.

Andrea Bocelli veio a tornar-se um dos maiores cantores do mundo. Engrossou também, junto do ícone Luciano Pavarotti, a fileira dos gênios que vieram ao mundo numa importante missão: trazer a música das óperas e orquestras para o povo, para as grandes massas. Grandes massas estas extremamente desgastadas pela frivolidade e banalidade que tem condenado a música popular ao posto de trivialidade instantânea.

Muitas foram as canções que fizeram sucesso pela voz de Andrea. Uma delas chama especial atenção, não só por sua beleza em si, mas por conter uma poética homenagem à nossa padecida Terra.

-“Andrea Bocelli – Canto Della Terra”:
http://www.youtube.com/watch?v=kCrWxKoOhH8&feature=related

Bom proveito!

#51 - Três são demais


O jazz não é só um estilo musical refinado, consagrado, mas também é um gênero que tem sua execução aparentemente subordinada sempre a músicos de alto nível técnico e acuidade.

Por que então o jazz é o estilo que tem recebido críticas das mais ácidas, principalmente quanto ao quesito “inovação”? Muitos têm afirmado que o jazz parou no tempo, que sobrevive de antigos temas e que as novas idéias continuam ser afogadas pelas entusiásticas improvisações, em que os músicos mostram sua técnica e quase sempre esquecem do mais importante: a idéia musical.

Fica fácil captar melhor essa idéia de mesmice quando nos deparamos com algo como o “The Bad Plus”. Trata-se de um trio de jazz absolutamente surpreendente, e isto é facilmente notado graças à clara prioridade que o grupo dá à idéia principal de cada música, bem como à estrutura que a rodeia. As viagens solísticas egocêntricas ficam em segundo plano.

O “The Bad Plus” prioriza a música, e não o músico. O resultado é uma sonoridade envolvente, imprevisível, e por incrível que pareça: muito simples.

O trio formou-se em 2000 pelo pianista Ethan Iverson, o baixista Reid Anderson e o baterista Dave King, e é famoso por criar, além das músicas próprias, versões de músicas pop e rock (como Queen, Radiohead, Tears For Fears etc..).

Aí vão três maravilhosas obras originais do “The Bad Plus”:

-“Anthem For the Earnest”:
http://www.youtube.com/watch?v=lb-bJlxXDbs

-“Physical Cities”:
http://www.youtube.com/watch?v=81YcNs82kyA&feature=related

-“Dirty Blondie”:
http://www.youtube.com/watch?v=04g1aFNoBZs&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

#50 - Cellar Door


Em 2001 foi lançado um filme que passou quase em branco pelos circuitos. Por incrível que pareça, ao assisti-lo podemos até sentir no fundo que isto é justificável...

O complexo roteiro é baseado nas teorias de Stephen Hawking e na filosofia de Roberta Sparrow, e o que mais nos excita e desafia nele como espectadores talvez seja a apresentação deste elemento Quântico misturado a um aparente distúrbio psicológico do protagonista (Donnie Darko, que dá o próprio nome do filme). Na verdade, o distúrbio de Donnie é aparentemente discutido como uma espécie de “fenda” que o permite obter contatos com uma outra dimensão.

Na estória, a casa de Donnie é vítima de um misterioso e inexplicável acidente, e a partir dele o rapaz começa a ser estranhamente induzido, pela visão de um homem-coelho feio pra diacho, a executar uma série de “tarefas” que ele próprio não compreende, mas que sente estarem conectadas à necessidade de impedir uma catástrofe. Ele trava, um tanto sem perceber, uma batalha contra o medo da morte ao compreender que precisará entregar sua vida para salvar a quem ama. E não se preocupe quem não assistiu, porque não entreguei nada... A coisa vai exigir muita queima de neurônios, garanto...

Musicalmente falando, o filme sustenta-se muito no som do grupo Tears for Fears, uma perfeita escolha para trazer a nostalgia dos anos 80, a se notar principalmente por esta pequena e arrebatadora cena (que vale dizer, não é um clipe, é no filme exatamente assim), que traça de maneira muito mais interessante do que a mera “narrativa regular” um panorama geral dos personagens que cumprirão papel fundamental na estória:
http://www.youtube.com/watch?v=AXwelEWpPXs

Outra canção do Tears for Fears usada, como tema principal, é a “Mad World”, só que em versão de Gary Jules, mais simples e intimista.

“Gary Jules – Mad World”:
http://www.youtube.com/watch?v=D1Nq086QB1Q

“Tears for Fears – Mad World” (original):
http://www.youtube.com/watch?v=nXuXikfIYHY&feature=related

Bom proveito!

#49 - De boneco e louco todo mundo tem um pouco...


O programa infantil Vila Sésamo estreou na programação brasileira em 1972, e tornou-se lembrança muito cara aos que foram crianças na época. Exaltado até os dias atuais, graças à genialidade de sua estrutura e conteúdo, Vila Sésamo foi a versão nacional de Sesame Street (“Rua Sésamo”) criado nos EUA em 1969 com base em inovadores estudos de educadores. A versão original tornou-se um dos programas mais duradouros da história, com mais de 30 anos initerruptos de produção.

Graças ao programa, uma música bastante despretensiosa criada pelo italiano Piero Umiliani tornou-se extremamente famosa, ao ser apresentada num quadro musical com a hilária coreografia de três peculiares personagens.

Após o sucesso desta primeira versão, outra coreografia, ainda mais hilária, foi apresentada no programa “The Muppet Show”, produção com bonecos que surgiu a partir de Sesame Street, com objetivo de ser mais “variedades” e agradar não apenas crianças. Vamos a ela:

“The Muppet Show - Manah Manah”:
http://www.youtube.com/watch?v=7wMHcpMmV9g

Outra que também vale um click:

“Harry Belafonte & The Muppet - Banana Boat Song”:
http://www.youtube.com/watch?v=Jpg-KIKD5gU&feature=related

Bom proveito!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

#48 - O vento que cresceu a barba


Dependendo das circunstâncias gerais em que o faça, ouvir uma boa música deles é como fazer, no meio de um espasmo de felicidade, uma terrível piada sobre seu melhor amigo; é o encontro com a conclusão sábia de que aquilo foi mais você do que o você cotidiano, sendo este último a versão improvisada de um bom manequim social.

Parece espantoso que muitos dos fãs de Los Hermanos relatem uma sensação de “invasão” quando envolvidos pelas canções do grupo, e falo de “invasão” no sentido injusto mesmo, como a possível sensação de alguém sentado no meio de uma roda onde todos pudessem ler seus pensamentos. Mas não tenho muita certeza de que este resultado seja tão misterioso...

Uma das características mais notáveis na banda é a precisão com que as letras são assentadas sobre a melodia, bem como seu temas e desenvolvimentos. Em suma, ao mesmo tempo em que as letras criadas não interferem na idéia melódica, elas não perdem substância por uma comum priorização de um elemento ou outro: letra e música convergem perfeitamente.

O resultado disso é que a bela musicalidade da banda prepara nosso terreno emocional para a série de panoramas e imagens a que as letras nos submetem, e é para nós impossível deixar de tentar decifrá-las. E é por culpa deste ímpeto pela explicação que muitas vezes empobrecemos algumas das letras do grupo, atribuindo a elas uma pretensa “complexidade poética”.

Alguns já descobriram a beleza que é apreciá-las em seus sentidos mais óbvios e simples, como a maravilhosa “Além do Que Se Vê”, que Marcelo Camelo (letra e música) compôs para sua mãe pintora: http://www.youtube.com/watch?v=P9lvAQdFwyM

O Los Hermanos tem uma trajetória (ainda que recente) bem interessante. Após um álbum de estréia com estilo musical frenético e meloso (até debochado), veio um segundo disco bastante diferente, mais introspectivo e refinado, cujo mote parecia ser mesmo o susto que acomete o folião quando a festa acaba. A primeira música deste álbum dá esta clara idéia, introduzida por um trombone solitário e triste, que parece lamentar-se num salão vazio e abarrotado de sepentina e confete:

“Los Hermanos - Todo Carnaval Tem Seu Fim”:
http://www.youtube.com/watch?v=J16o9bYS-no

"Casa Pré-Fabricada" (versão de Roberta Sá):
Bom proveito!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

#47 - De pai para filho


A vida do músico texano Radney Foster corria relativamente bem. No fim da década de noventa, estava com a carreira estável, prestes a lançar um novo álbum.

Certo dia, uma notícia chegou de sua ex-esposa. Ela o informou de que iria mudar-se para a França, no intuito de estabelecer melhor um novo relacionamento que estava vivenciando. Quanto a este último detalhe, não houve maiores problemas, mas a notícia abalou Radney de forma terrível, já que seu filho com ela, de três anos, teria de ir embora também.

Sem ver uma saída razoável para a situação, Radney compôs uma canção maravilhosa para o menino, dizendo a ele que a ouvisse todas as noites antes de dormir. E dizem que ele ainda o faz até hoje...

A melodia é surpreendente, e a letra demonstra uma extrema sensibilidade de Radney, intercalando o que seria uma oração noturna e muitos personagens do universo infantil. Seu título, “Godspeed”, é uma expressão antiga, uma despedida que deseja boa jornada e prosperidade. Se a traduzíssemos literalmente, poderia ser “na velocidade de Deus”.

“Radney Foster – Godspeed (Sweet Dreams)”:
http://www.youtube.com/watch?v=eos7FbtuTbo

Bom proveito!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

#46 - O Espírito Continua...


Com a licença da liberdade de expressão, e sem receio de contrariar os puritanos, afirmo com plena segurança que o mais belo capítulo da história do Rock Progressivo ainda estava para ser escrito mesmo após seu declínio a partir dos anos 80.

Este capítulo começa em Cuba, no ano de 1993, com um triste acidente. Um jovem chamado James Labrie estava há pouco tempo integrado num trabalho no qual podia se considerar feliz e realizado. Cantor desde os 5 anos de idade, dono de um talento inigualável e timbre único, passara considerável tempo pulando de grupo em grupo sem nenhum sucesso, até que em 91 consegue ser contratado como vocalista da banda Dream Theater, que na época já era respeitada como um dos únicos mantenedores consistentes do rock progressivo. Mas sua felicidade não demorou muito para ser fatalmente abalada. Dois anos depois, numa viagem ao citado país de Fidel, sofreu uma gravíssima intoxicação alimentar que, por incrível que pareça, culminou no rompimento de suas cordas vocais.

Tentando tratar-se com um punhado de especialistas, recebeu de todos a triste notícia de que nada mais podiam fazer. Após um tempo de repouso, o Dream Theater entrou em estúdio para um novo álbum, e contrariando todas as recomendações médicas James decidiu participar, e a muito custo conseguiu gravar com a banda. Sem conseguir ficar longe dos palcos, saiu em turnê, e seu desempenho foi desesperador.

Ao final da turnê, James, extremamente deprimido e prejudicado, decidiu largar a banda. No entanto, seus companheiros recusaram-se a aceitar sua saída, e com o comovente apoio que recebeu de todos, conseguiu algum fôlego para seguir em frente. E eis que os músicos do Dream Theater estavam então preparados para dar à luz seu carimbo na história: o álbum “Scenes From a Memory”, lançado em 1999.

Todo o disco conta a história de um homem que sente-se atormentado sem saber o motivo, até que decide fazer uma regressão de memória. A partir daí, as músicas passam a narrar a descoberta de uma vida passada cujos incidentes marcaram o homem, bem como sua jornada pelo inconsciente a fim de encontrar sua paz de espírito.

A temática da imortalidade da alma, da continuidade da vida após a morte, é tratada de forma memorável durante a trajetória do personagem, e a subordinação disto à musicalidade da banda transforrna a audição num momento transcendente. E tal transcendência não se dá pelas antigas “caleidoscopias sonoras” ou pelas ilusões dos ácidos, mas pelo desafio das harmonias e pelo poder de som do grupo.

Contemplemos os três momentos finais deste trabalho, os trechos mais trágico-operísticos de “Scenes From a Memory”, que culminam, em minha humilde opinião, no encerramento mais belo de todos os melhores álbuns do gênero. E nos emocionemos, também, com a valentia do cantor James Labrie, ainda prejudicado na voz, mas vivo de alma:

-Throught My Words / Fatal Tragedy:
http://www.youtube.com/watch?v=XWuCdV5VWWU&feature=related

-The Spirit Carries On:
http://www.youtube.com/watch?v=avPdOAKl8w4&feature=related

-Finally Free:
http://www.youtube.com/watch?v=DM02oyWWxNY&NR=1

Bom proveito!

#45 - Ótimas Notícias!


Como todo carinha que toca um instrumento, eu também tive uma banda. Ela chamava-se Virthua e durou alguns poucos anos até desfazer-se no tempo.

Na época nosso cantor era Guilherme Rios, e sempre me espantou o talento inigualável que ele tinha, tanto como cantor como na criação de músicas, embora em nossa banda ele fosse muito tímido para mostrá-las.

Depois que a Virthua acabou, muito torci para que ele seguisse adiante, e no fundo sempre achei que alguém com suas características estivesse fadado ao sucesso. Pois bem, poucas coisas dão tanta alegria a alguém como ver um amigo sincero realizar-se.

É com muita felicidade que noticio a participação da banda Líris (cujo vocalista é o dito cujo) hoje (06/08) no Programa do Jô, da rede Globo.

Não tenho dúvidas de que estes rapazes tem tudo para dar um novo fôlego ao rock nacional. Ouçam algumas músicas no link abaixo (recomendo "Simples Assim" e "Vento", minhas preferidas):

www.myspace.com/bandaliris

Muita sorte e inspiração aos nossos amigos Guiba, Vitão, Mike, Peepo e Nico!

terça-feira, 29 de julho de 2008

#44 - Entrevista: o homem das trilhas


O paulistano Américo Sucena viveu grande parte de seus anos entre os cálculos da complexa engenharia e seu amor pela música. Atualmente, aposentado, não só dedica-se ao radialismo, como dá palestras e o mais interessante: é detentor de uma das mais admiráveis coleções de trilhas-sonoras de cinema no país, se não no mundo.

Agora teremos a oportunidade de ler um pouco de sua experiência nesta pequena entrevista, que ele gentilmente cedeu ao blog.

G.B. - A música certamente faz parte do cotidiano de todos nós, desde que nascemos. Ainda assim, poderia nos contar se houve algum momento específico a partir do qual deu-se conta de que ela era parte essencial de sua vida?
A.S. - Sempre tive uma relação forte com música ainda criança. A música orquestral sempre me encantou. Mas a música de cinema uniu a música clássica aos temas mais populares. Depois que os grandes compositores clássicos desapareceram o cinema os trouxe de volta.

G.B. - De onde surgiu esse gosto tão especial pelas trilhas sonoras?
A.S. - Quando eu tinha 9 anos, meu pai desencarnou e algum tempo depois ouvi o tema que Max Steiner compôs para “E o Vento Levou...” (post #41). Eu estava acompanhado de minha mãe que chorava muito ao ouvir aquela música. O “Tema de Tara” é muito bonito e tristonho, e eu soube que meu pai o assobiava quando eles acabaram de assistir ao filme. Aquele tema eu nunca mais esqueci. Muito tempo depois eu soube por minha mãe que meu pai saia dos cinemas e assobiava os temas que gostava. Ele prestava atenção na música enquanto assistia ao filme. Eu faço isso também. Ele me influenciou sem que eu soubesse ou sabia? Não sei. Só sei que gosto também de música de cinema.

G.B. - Sua coleção já chega aos espantosos 1600 CDs, todos originais. Como surgiu a vontade de formá-la?
A.S. - Eu já tinha uma coleção razoável quando, em 1998, sugeri à Rádio Boa Nova que seria interessante fazer um programa de música de cinema. Eles toparam e em 1999 começamos o “Cinemagia”, que está no ar até hoje. De lá para cá achei que poderia compartilhar com as pessoas os CDs que tenho. Então passei a me interessar também pelas (boas) trilhas que surgem a cada novo filme para manter o programa atualizado.

G.B. - Qual foi a primeira trilha que adquiriu?
A.S. - A primeira trilha tem uma história interessante. Sai de casa nas férias de 1983 para comprar um vídeo-cassete para minha família (na época composta por esposa e duas filhas). Quando entrei na loja (Bruno Blois da R. 24 de Maio) não havia nenhum modelo disponível. Já estava de saída quando ouvi pela fresta de uma sala envidraçada para uso dos aficionados por música clássica um tema esquisito com um som sem chiados. De repente o andamento se altera e entra o conhecido tema de “Guerra nas Estrelas” de John Williams. Um som com uma pureza que eu nunca tinha ouvido. Foi o suficiente para eu sair da loja com um tocador de CD mais o disco que naquela época acompanhava o aparelho e, é claro, com o CD do filme “O Retorno do Jedi”. Cheguei em casa e perguntei: “adivinha o que eu comprei!”. Depois da bronca, tive que voltar a uma outra loja e comprar um Vídeo Cassete. Mas “O Retorno do Jedi” foi o meu primeiro CD de filme.

G.B. - Existe algum parâmetro que uma trilha deve ter para fazer parte de sua coleção, ou sai logo comprando de tudo?
A.S. - Hoje, busco comprar trilhas que tenham um tema (pelo menos um) que me agrade, mas também, na condição de colecionador, compro trilhas indicadas a Oscar de Melhor Filme, Melhor Trilha e Melhor Canção.

G.B. - Dentre tantas, alguma trilha tem um significado especial?
A.S. - A Trilha de ET (post #2) me emociona até hoje sempre que vejo o filme. Não há como não gostar. Tenho também uma trilha rara e bonita de um filme ainda mudo: “Ben-Hur” de 1925, do compositor Carl Davis
(http://www.youtube.com/watch?v=zs_2eR7pU5w).

G.B. - Existe alguma obra que sempre quis ter, mas nunca conseguiu encontrar?
A.S. - Algumas trilhas faltam em minha coleção. Uma delas é a do filme “55 Dias em Pequim”
(http://www.youtube.com/watch?v=xvFf5tn1j1o), outra do “Se Meu Apartamento Falasse”. Eu tenho os temas principais dos dois filmes, mas quero ter a trilha toda. Mas não são só essas duas que me faltam, há outras fora de catálogo ou ainda não editadas.

G.B. - Qual é seu compositor favorito?
A.S. - Meu compositor favorito é John Williams. O estilo vibrante e altamente melódico me encantam. Uma trilha que é melódica do começo ao fim é a do filme Sabrina de 1995. Indispensável numa coleção de trilha sonoras. É um dos compositores que mais ‘amarrou’ o tema ao filme. Senão vejamos: Tubarão, Caçadores da Arca Perdida, Guerra nas Estrelas, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, ET – O Extraterrestre, Superman, A Lista de Schindler, e outros mais.

G.B. - Acha que existe algum caminho que seja mais recomendável a quem esteja iniciando-se na apreciação de trilhas sonoras?
A.S. - Trilhas sonoras devem chamar atenção pela boa melodia. É o belo atendendo ao prazer de ouvir algo que nos faça bem. É o belo unido ao que é bom. Ela deve nos transportar sem sairmos do lugar.

G.B. - Já li e ouvi muitos intelectuais (ou pseudo) discutindo a arte sob parâmetros do "Belo", ou da "Beleza". Segundo o que disse sobre o "belo unido ao que é bom", dá-nos a idéia de que a arte (a forma de expressão mais espiritual do ser humano) pode ter seu valor atrelado a um novo e importante aspecto. O que vem a ser este "bom" a que se refere?
A.S. - Sabemos que estamos envoltos por vibrações eletromagnéticas. Tudo vibra e exala suas vibrações na natureza. O cientista japonês Massaro Emoto em seu livro “A Mensagem da Água” nos revela a formação de cristais de gelo, com água de diversas procedências. A influência da boa música é notável para a harmonização dos cristais que se formam. É possível ver o que acontece com a água, antes e depois da harmonização. Como o nosso corpo é composto de 75% de água, somos diretamente harmonizados ou não pela música. Isso para citar apenas uma forma de influência que já é conhecida. É viver e aguardar novas descobertas.

Para aqueles que desejam mergulhar neste fascinante universo da música para cinema, um bom começo é sintonizar Américo Sucena no Cinemagia, quadro diário exibido pela Rádio Boa-Nova (1450 AM), sempre às 12:55 horas. E quase todo o acervo do Cinemagia pode ser facilmente acessado no site www.radioboanova.com.br. Basta clicar em “Rádio Gravado”, escolher um dia e clicar em Cinemagia às 12:55, e deleitar-se com todos os maravilhosos temas apresentados nos últimos anos.

Bom proveito!

#43 - Podem os mestres ter ídolos?

Era verão de 1812. Na estância termal alemã de Toeplitz, dois homens caminhavam de braços dados, muito juntos. Mas assim estavam não pela privacidade da conversa, já que um deles repetia seus assuntos quase sempre em alto e bom som ao ouvido de seu amigo. Falavam animadamente sobre música, poesia, e dividiam seus felizes ideais de revolução, liberdade e igualdade.

Em dado momento, um pequeno comboio de nobres cruza-lhes o caminho. Imediatamente, Goethe solta seu braço do amigo e abre para os ilustres um espaço quase tão grande quanto sua reverência e sorriso. Beethoven olha aquilo com espanto, e sua amizade com Goethe, que mal havia começado, já parte para um inevitável afastamento apático.

Beethoven era leitor das obras de Goethe (mais conhecido por “Fausto”) desde sempre, e diariamente devorava toda a criação do escritor. Sua admiração exacerbada possivelmente devia ter uma razão além do valor literário próprio. O fato é que Goethe costumava dizer abertamente, e com freqüência, que a música era o que movia seu amor pelas palavras, que a música era sua inspiração e a forma de arte perfeita para dar a seus escritos um valor completo e verdadeiro.

Na ocasião do encontro de Beethoven com seu ídolo, o compositor já havia finalizado a música que lhe fora encomendada para uma nova encenação de uma antiga peça de Goethe, chamada “Egmont”. Ser convocado para musicar uma peça de Goethe (ainda mais algo que tratava da luta pela liberdade contra o “invasor”) deixou Beethoven nas nuvens, e o resultado é que a abertura de “Egmont” é executada até os tempos atuais em concertos pelo mundo todo.

Não se sabe o quanto esse período e seus acontecimentos influenciaram o mestre na criação de sua Sétima Sinfonia (composta no ano de seu encontro com Goethe), mas o Segundo Movimento desta – uma das obras mais enigmáticas e perturbadoras do mestre – parece carregar um pequeno fardo da abertura de "Egmont".

-Beethoven – “Abertura de Egmont”:
http://www.youtube.com/watch?v=M1yxWXHLWcY

-Beethoven – “7ª Sinfonia, 2º Movimento” (não pergunte quem é a mulher do vídeo... foi a melhor versão que encontrei):
http://www.youtube.com/watch?v=5V5k0Plh-jY

Bom proveito!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

#42 - Nem sempre há chocolates nas caixas de chocolates


Uma pena branca flutua livre, levada ao sabor da brisa. Um suposto acaso a faz pousar graciosamente nos pés de um aprumado rapaz, sentado no ponto de ônibus. Ele a recolhe e guarda dentro de um livro. Passa, em seguida, a contar sua história para a pessoa que está ao lado.

Assim começa uma das mais singelas e grandiosas obras que o cinema já trouxe ao mundo: a história de Forrest Gump, um americano que, apesar de ter um QI baixíssimo e ser considerado retardado, traz em sua bagagem de vida uma coleção inimaginável de conquistas e aventuras.

O compositor Alan Silvestri - muito conhecido pelo tema de "De Volta Para o Futuro" – (http://www.youtube.com/watch?v=5Lh0fi6KmaA), criou para o personagem Forrest um tema que não indica a ostentação de seus êxitos, ou a perseverança que o levaram a suas vitórias. Estranhamente, o tema musical ligado a ele é simples e inocente. Simples e inocente como a própria alma de Forrest.

Outra música notável da trilha de Silvestri é aquela que envolve o amor de Forrest por Jenny (aos 2:16 no link), amor este que permeia toda a sua vida, e que permanece imutável apesar das constantes diabruras da garota.

O link contém ambas as músicas citadas (em ordem respectiva) e algumas mais:

-"Alan Silvestri - Forrest Gump" (Medley):
http://www.youtube.com/watch?v=FcOt6mfjxeA&feature=related

Bom proveito!

#41 - Não quer entrar para tomar uma xícara de café?


Creio que todos nós perguntamos um dia, ao assistir um desses filmes espetaculares, como há neles músicas tão interessantes, e o principal: como essas músicas se encaixam com tamanha sincronia e perfeição às cenas?

Pode parecer que a trilha sonora para filmes foi algo criado para ser assim, desde sempre, mas não foi. Embora seja verdade que a música tenha feito parte dos filmes antes mesmo da voz humana, ela era (nos seus primórdios) apenas um recurso para realçar situações e emoções primárias. Por exemplo: havia um tema padrão para salientar a chegada do vilão, para fazer rir, para reforçar tristeza, assim por diante.

Qualquer um que conheça um pouco a vida de Max Steiner (1888-1971), sabe que não é exagero algum dizer que ele foi o pai da trilha sonora, em todos os seus melhores aspectos que temos hoje e que tivemos ao longo de tantas décadas.

Steiner foi um gênio da música que não mediu esforços para romper todos os limites vigentes no processo musical cinematográfico. Contratado como chefe do departamento musical do estúdio RKO em 1929, teve ferrenhas brigas com Deus e o mundo para que a trilha sonora ganhasse espaço de legítima contribuição artística nos filmes. Aos poucos suas batalhas foram sendo vencidas, devido é claro à sua sublime criatividade.

Logo, Steiner compôs uma trilha que revolucionou a música para cinema e estabeleceu todos os seus melhores padrões: a primeira versão de King Kong (1931). Esta trilha surpreendeu o meio cinematográfico, pois aparentemente ninguém havia pensado que a música poderia aglutinar-se tão bem às cenas e dar-lhes uma profundidade emocional tão grande, além, é claro, de sincronizar-se à ação das imagens.

Eis aqui uma das cenas mais antológicas da história. Reparem o poder que a música de Max Steiner lhe imprime. Ela faz parte do filme “E o Vento Levou” e praticamente resume qual o papel mais rico da música para cinema, dando substância sobrenatural ao clímax da personagem após uma dramática trajetória de dificuldades:
http://www.youtube.com/watch?v=rgjHuOnwhFA

E o Vento Levou - Tema de Tara:
http://www.youtube.com/watch?v=1KBT4BYjr1I

Seleção de temas de Max Steiner:
http://www.youtube.com/watch?v=03jiCoXaU5Y

Bom proveito!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

#40 - They sure do brazilian music!


Em 1996 foi lançado um álbum especialmente notável, de uma banda brasileira, que canta em inglês e faz sucesso no Japão.

É muito interessante perceber que logo o Angra (para quem muitos torcem o nariz pela opção das letras em inglês) foi um dos grupos de rock que conseguiu englobar elementos de música brasileira em sua sonoridade de um modo objetivo, mantendo tanto a consistência do elemento novo quanto do rock, sem pretensões de mistura que costumam fazer com que alguns rockeiros nada pareçam mais que baiões com guitarra.

Isto ocorreu com o Angra no álbum em questão, chamado “Holy Land”, em que todas as músicas relacionam-se a contar sobre o descobrimento do Brasil, tanto pelo lado europeu quanto pelo lado indígena.

A beleza do disco foi crucial para gravar o Angra como representante absoluto do metal brasileiro, e para botá-los como estrelas de primeira grandeza no já mencionado Japão, atrás apenas de grupos como Guns’ Roses ou U2.

A banda é paulistana, formou-se em 1991 pelo empresário Toninho Pirani, e após drásticas mudanças de formação está atualmente parada. Aí vão algumas de minhas favoritas:

- “Angra – Deep Blue” (album Holy Land):
http://www.youtube.com/watch?v=g051RL2AH6U

- “Angra – Carolina IV” (album Holy Land):
http://www.youtube.com/watch?v=9XCtqvrO_Nk&feature=related

- “Angra – Metal Icarus” (album Fireworks):
http://www.youtube.com/watch?v=lAhEyuA7Smc

Bom proveito!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

#39 - A menina de cabeça fértil


Corria o ano de 1984. Na capital canadense Ottawa, a apreciada cantora folk Lindsay Morgan havia recebido a intrigante visita de uma garotinha de 10 anos, que tencionava vender a ela uma canção de sua autoria. O momento que seria então de inocência e encanto mostrou-se um pouco mais sério, quando de fato Lindsay constatou que a pequena havia criado algo deveras valioso. A música então chamada “Fate Stay With Me” foi comprada por ela, que resolveu também ajudar a menina a buscar uma trajetória nas artes.

Para tanto, fez com que ela gravasse sua canção como um single e o lançasse numa edição limitada por um selo desconhecido. Trabalho feito, embora de proporções mirradas, o single chamou a atenção da MCA, que alguns anos depois assinou contrato com a talentosa garotinha.

Alanis Morissette lançou, então, em 1991, seu primeiro disco oficial, aos 17 anos de idade. O trabalho buscava explorar o carisma dela em faixas pop-dance, e a empreitada teve grande sucesso nas paradas. Buscando dar continuidade aos dividendos, veio o segundo disco, também dançante, mas a explosão anterior já dava sinais de desvanecimento.

Alanis viu-se numa crescente maré de desânimo quanto a seu trabalho. Por um período, a partir de 93, morou sozinha e botou-se numa busca incessante por músicos com quem pudesse trabalhar ou que a ajudassem a encontrar uma forma de expressão que lhe desse mais satisfação. Conhecer então o produtor Glen Ballard pôs fim à busca da moça. Encorajando ferozmente Alanis a expressar suas emoções Glen foi aos poucos ajudando-a a compor o que seria um dos álbuns de rock pop mais vendidos da época: o “Jagged Little Pill”, em que quase cada uma das faixas virou hit.

A partir de então, o estilo musical de Alanis Morissette fixou-se numa crueza maior pelo lado instrumental, e numa linha melódica especialmente dramática. Aí vai uma das minhas favoritas:

-“Alanis Morissette – Joining You”
http://www.youtube.com/watch?v=dKVfo9SnH2E&feature=related

Bom proveito!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

#38 - Requiem para uma Bruxa Doida


Difícil crer que algo assim foi feito em 1939, sem qualquer tecnologia computadorizada. Apenas com talento e criatividade, esta sequência do clássico "O Mágico de Oz" não é apenas uma referência no gênero musical, como também um exemplo de número musical em substituição a uma extensa narrativa. Pura aula de fantasia. Deleitem-se com a maravilhosa Judy Garland (Dorothy) e o povinho pequeno, com canção de Harold Arlen (letra) e Herbert Stothart (música) feita para a cena em que a menina pousa na Terra de Oz matando, sem querer, uma temida bruxa:

“Ding Dong! The Witch Is Dead” (ponham essa janela diminuída ao lado e divirtam-se acompanhando a tradução):
http://www.youtube.com/watch?v=XOEq-ImGWJ0

(Glinda)
Saiam, saiam de onde quer que estejam
E conheçam a jovem dama que caiu de uma estrela
Ela caiu do céu, caiu de muito longe
E “Kansas” ela diz ser o nome da estrela.
(Munchkins)
“Kansas” ela diz ser o nome da estrela.
(Glinda)
Ela traz boas notícias, vocês não ouviram? Quando caiu de Kansas um milagre ocorreu!
(Dorothy)
Na verdade não foi milagre
O que houve foi só isto:
O vento começou a mudar, e a casa a balançar! E de repente as dobradiças começaram a soltar
E então a bruxa, para satisfazer seu desejo
Veio voando em sua vassoura desastrando-se num tombo
(Munchkin homem)
E oh!, o que aconteceu então foi ótimo!
(Munchkins)
A casa começou a balançar, e a cozinha abriu uma fenda
Ela pousou sobre a bruxa doida bem no meio de uma vala
O que não foi uma situação saudável para a bruxa doida.
A casa começou a balançar, e a cozinha abriu uma fenda
Ela pousou sobre a bruxa doida bem no meio de uma vala
O que não foi uma situação saudável para a bruxa doida
Que começou a estrebuchar, e reduziu-se a um mero trapo
Do que antes havia sido uma bruxa doida.
(Munchkin 1)
Nós te agradecemos docemente, por fazer isso tão habilmente
(Munchkin 2)
Você a matou tão completamente
Que nós agradecemos docemente
(Glinda)
Deixemos as adoráveis notícias se espalharem
A bruxa velha e doida finalmente morreu!
(Munchkins)
Ding-dong! A bruxa morreu!
Que velha bruxa? A bruxa doida!
Ding-dong! A bruxa doida morreu!Acordem, seus dorminhocos!
Esfreguem os olhos e saiam da cama!
Acordem! A bruxa doida morreu!
Ela se foi para onde os gnomos vão
Pra baixo! Pra baixo! Pra baixo!
Yo-ho! Vamos nos soltar e cantar e tocar os sinos!
Ding-dong! O feliz canta alto! Canta baixo
Deixem todos saberem! A bruxa doida morreu!
(Prefeito)
Como prefeito da cidade Munchkin
No condado da Terra de Oz
Eu dou-lhe boas-vindas muito majestosamente!
(Juíz)
Mas nós temos de verificar isto legalmente
Pra ver…
(Prefeito)
Pra ver…?
(Juíz)
Se ela…
(Prefeito)
Se ela…?
(Juíz)
Está moralmente, eticamente…
(Munchkin 1)
Espiritualmente, fisicamente…
(Munchkin 2)
Positivamente, absolutamente…
(Munchkin homem)
Inegavelmente e confiavelmente… morta!
(Legista)
Como legista afirmo que a examinei completamente
E ela não está meramente morta
Mas sim muito sinceramente morta!
(Prefeito)
Então este é um dia de independência
Para todos os munchkins e seus descendentes
Deixemos as boas notícias se espalharem
A bruxa velha e doida morreu!

-(E não se pode falar em O Mágico de Oz sem adicionar esta canção):
http://www.youtube.com/watch?v=10w_sEcHlGs&feature=related

Bom proveito!

#37 - Requiem para um Vivo


Era março de 1791. Wolfgang Amadeus Mozart estava em sua casa em Viena, sofrendo estranha obsessão pela morte, após o falecimento de seu pai, quando um estranho bate à sua porta.

Recusando-se veementemente a se identificar, o estranho encomenda de Mozart um Réquiem (obra musical de homenagem aos mortos), e dá-lhe um vultoso adiantamento, avisando que voltaria em um mês.

O que pareceria então apenas mais um trabalho transformou-se num transtorno insano. Mozart, com a saúde debilitada, deprimido e afeito a idéias sobrenaturais passou a acreditar que a encomenda misteriosa daquele anônimo era um aviso do Destino. Um aviso de que aquele Réquiem era o anúncio de seu próprio funeral.

Mozart faleceu antes de concluir a obra, e embora haja especulações, a identidade do responsável pela encomenda permanece em relativo mistério. A versão mais aceita é a de que o homem era um enviado do conde Franz Walsseg, cuja esposa havia morrido. Ao que dizem, Franz pretendia que a obra fosse tocada em homenagem à esposa e afirmar-se autor dela perante os presentes, coisa que já havia feito antes.

Embora possa-se ouvir o Réquiem de Mozart inteiro, o mestre apenas pôde concluir uma parte dela. Coube a seu discípulo Franz Xaver Süssmayer a tarefa de tomar as partes e anotações de Mozart e finalizar aquela que seria uma das obras-primas da música clássica.

A parte que ouviremos chama-se “Domine Jesu Christe”, uma das mais vigorosas e extraordinárias de todo o Réquiem. Reparem a incrível perfeição com que as vozes e frases do coral se entrelaçam numa mistura que chega a parecer um caos harmonizado.

-“Wolfgang Amadeus Mozart – Réquiem em Ré Menor (Domine Jesu Christe)”
http://www.youtube.com/watch?v=xO3nT5cvaOo

- (este vídeo contém alguns problemas, mas condiz melhor com a força da música):
http://www.youtube.com/watch?v=xrkRX1UEZcg

Bom proveito!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

#36 - E de ordinário só tem o mundo


Na década de 80 o advento das sonoridades eletrônicas teve seu auge. Ainda assim, um dos grupos tidos como carro-chefe deste movimento poderia até não ser classificado como tal. A banda inglesa Duran Duran (nome baseado no vilão Dr. Durand Durand, do filme Barbarella) marcou substancialmente o mundo da música pop com uma combinação de fatores invejáveis a qualquer artista ou grupo, não importa o gênero: a dose controlada e correta de eletrônicos, melodias notáveis e arranjos bastante precisos.

Como é bem sabido, o Duran Duran teve uma trajetória milionária, e não demorou muito para que seus integrantes passassem a viver quase que efetivamente em hotéis de luxo. E embora isto pareça fato comum em gente de sucesso, no caso do Duran Duran tomou uma proporção psicologicamente perigosa mas quase invisível. Mais perceptível na atuação geral do cantor Simon Le Bon, é possível sentir um tom de apatia, talvez até de desconexão, principalmente nas músicas do Duran Duran que tem algum cunho social. Ainda assim, por muito tempo será impossível ficar indiferente à musicalidade da banda.

Apesar dos hits de êxito mundo afora, uma bela canção do Duran Duran, curiosamente, só fez sucesso no Brasil. Trata-se de “A Matter of Feeling”. Ouviremos esta e outra que talvez seja a mais conhecida da banda: a extasiante “Ordinary World”.

“Duran Duran – A Matter of Feeling”
http://www.youtube.com/watch?v=tjk1DUgrvmg

“Duran Duran – Ordinary World”
http://www.youtube.com/watch?v=FeXuOLliDro&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 24 de junho de 2008

#35 - Houston, we have a song!


Em 26 de maio de 1969 a NASA lançava ao espaço sua quarta missão tripulada: a Apollo 10. Com destino à lua, a canção que embalava a tripulação dentro da nave não poderia ser outra: “Fly Me to the Moon”.

A música, composta por Bart Howard em 1954, era tão bela que em poucos anos tornou-se um dos mais adorados standards de jazz. O próprio Vince Guaraldi (assunto do post #15) fez sua versão para a trilha de um dos desenhos de Snoopy, cujos personagens serviram de mascotes para a missão Apollo 10.

Ao longo dos anos, incontáveis cantores emprestaram suas vozes a “Fly Me to the Moon”, e aqui vão minhas duas favoritas:

-Frank Sinatra:
http://www.youtube.com/watch?v=1rAsoLm1Ges

-Karolina Pasierbska:
http://www.youtube.com/watch?v=rlU5SKE4eb4&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 17 de junho de 2008

#34 - Toma tua guitarra e me siga


Não é novidade que conforme o mundo do rock foi estabelecendo a febre dos “guitar heroes” (termo usado pra designar os guitarristas que tinham talento e mais fama, às vezes, que todos os membros de uma banda), foi surgindo no mundo uma quantidade infindável de tocadores ávidos por velocidade nos dedos, fator que engana os ouvidos inadvertidos e substitui o vazio de sentido musical de quem tem mais ego que criatividade.

No meio destes, Steve Vai surge como um profeta a mostrar para as ovelhinhas como é que se faz. Não há notícias, no meio guitarrístico, de alguém que alie como Steve extrema criatividade, flexibilidade e disciplina fora do comum. Dedicando-se a uma rotina de estudo diário de 8 ou mais horas, Steve impressiona não só na dominação de estilos e técnicas mas, para aqueles que observam o instrumento, é possível perceber em suas músicas que a criação das mesmas transforma seu modo de executá-las e frequentemente nos deparamos com sonoridades inusitadas. Isto é uma marca registrada, já que ouvindo outros grandes guitarristas, percebemos que grande parte das composições destes são advindas de técnicas.

Para Steve, a música origina o resto. Assim, para quem não está familiarizado com o instrumento, seria muito proveitoso ao ouvir prestar muita atenção às diferentes qualidades sonoras, texturas e vogais que ele consegue.

A primeira música sugerida, “For The Love of God”, é sem dúvida sua criação mais bela e famosa. Reza a lenda que Steve, ao ter a inspiração para o tema, ficou três dias sem comer nem dormir, até que concluísse a composição. Talvez este período desesperador tenha dado o nome, que traduzido seria “Pelo Amor de Deus”.

Nunca se sabe se essas lendas são verdade... Mas em se tratando de Steve Vai, e de sua entrega absoluta à guitarra, não me supreenderia se alguém viesse aqui dizer: “Essa lenda é mentira, na verdade ele levou oito dias”.

“Steve Vai – For The Love of God”
http://www.youtube.com/watch?v=avKhKDef9Vo&feature=related

“Steve Vai – Tender Surrender”
http://www.youtube.com/watch?v=Yw74sDWPH7U&feature=related

Bom proveito!

#33 - O que passou calou, e o que virá dirá.


A mocinha que estudava piano e canto foi para a Itália, em busca do belcanto, mas resolveu deixar tudo para trás e mostrar por lá algum repertório brasileiro. Fez sucesso antes mesmo de lançar qualquer álbum.

A carioca Marisa Monte, tida pela revista Rolling Stone como a melhor cantora brasileira da atualidade, envolve-nos em intimismo e graça. Sua trajetória pelo estudo de voz lírica é perceptível em seu perfeccionismo e precisão vocal, mas que é conciso. Em outras palavras, Marisa faz o que considero o ato mais nobre dos seres humanos de voz privilegiada: colocar seu material em favor da música, e não usar uma boa música para exibir voz.

A sugestão aqui é uma canção feita em parceria com Carlinhos Brown (parceiro também nos Tribalistas, ainda com Arnaldo Antunes). O mais surpreendente em “Pra Ser Sincero” é o desenho harmônico (combinação de notas) que acompanha e abraça a melodia. É de causar sensações indescritíveis, à medida em que nos envolvemos por ele, por isso é interessante, para aqueles que não a conhecem, ouvirem três ou mais vezes. É uma experiência muito válida, já que a maioria de nós costuma ligar mais para letra e melodia.

Esta é a prova de que uma melodia não traz em si (como já ouvi músicos dizerem) a harmonia que a ela corresponde. Traz, é claro, apenas um conjunto sonoro que é possível entrever e construir à primeira audição.

“Marisa Monte – Pra Ser Sincero”
http://www.youtube.com/watch?v=Lk3jpgb-0iE

“Marisa Monte – Vilarejo”
http://www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48&feature=related

Bom proveito!

terça-feira, 10 de junho de 2008

#32 - Três formas de dizer I wish you were here...


O Dia dos Namorados é uma data cuja comemoração remonta a São Valentim, bispo católico que, no século III d.C., contrariou a ordem do rei Claudio Segundo que proibia casamentos (com objetivo de viabilizar a criação de grandes exércitos). O bispo casava os apaixonados secretamente, mas acabou decapitado no ano 270.

No Brasil, a data é comemorada em 12 de Junho por ser véspera do Dia de Santo Antônio, santo português que de tanto pregar a importância da união familiar, acabou com fama de casamenteiro.

No universo musical, a natureza humana demonstra grande interesse pela audição de músicas tristes que as façam refletir submersos no que chama-se modernamente “fossa”, ou que embora tristes e com letras advindas de choros, saudades e ciúmes, as façam, paradoxalmente, suspirar pela sorte de um par já adquirido.

Dentre um tanto de músicas românticas nas quais os sensíveis (ou os manteiga-derretida, grupo no qual declaro-me incluso) esbaldam-se, existe um número interessante de músicas muito famosas com nomes iguais. A este respeito, destaco uma parte da espantosa coleção de “Wish You Were Here”s:

“Wish You Were Here” do “Pink Floyd”:
http://www.youtube.com/watch?v=IXdNnw99-Ic

“Wish You Were Here” do “Blackmore’s Night”:
http://www.youtube.com/watch?v=qoYbVosc93U

E como não poderia faltar: a “Wish You Were Here” do “Bee Gees
http://www.youtube.com/watch?v=ei7Eq3W5tyE

Escolha sua favorita e bom proveito!

#31 - Rompendo barreiras de aço


Muitas bandas de rock pesado conseguiram quebrar certos paradigmas, mas talvez o grupo que mais tenha jogado pro ar as estruturas do Metal seja o Blind Guardian. A banda formou-se por volta de 1984, na Alemanha, e teve talento para estabelecer-se no cenário musical lá pelas rebarbas de grupos como Helloween, banda conterrânea e formada mais ou menos na mesma época (http://www.youtube.com/watch?v=-Dl6CLWLMzk).

Por cerca de dez anos, o grupo seguiu uma carreira sólida, mas em 1998 o Blind Guardian abalou positivamente o gênero lançando o álbum “Nightfall In Middle-Earth”. Neste trabalho surpreendente, a criatividade da banda atinge seu auge. Os velhos padrões do estilo “riff-solo” são trocados por arranjos de guitarra plenamente fluentes, fraseados e intercalando-se com perfeição às melodias vocais. As músicas, apesar de manterem seu clímax nos refrões, são imprevisíveis, e todo esse conjunto de características deve-se, possivelmente, ao conceito buscado para o álbum. Ele baseia-se, em todo, no livro “Silmarillion”, que é nada menos que uma coletânea de escritos de J.R.R. Tolkien, passados em eras da Terra-Média anteriores aos fatos de “O Senhor dos Anéis”. O livro, a propósito, serviu de óbvia inspiração a outra banda, a Marillion (http://www.youtube.com/watch?v=cwNVfNc1IQM)

Esse tipo de conceito acaba subordinando o processo criativo a um segmento narrativo, o que resulta em músicas com estrutura semelhante à ópera.

Mesmo para quem não é fã do estilo, vale a pena conferir. E adiciono também uma canção acústica surpreendente, de álbum anterior, chamada “The Bard Song”, ou “A Canção do Bardo”.

“Thorn”:
http://www.youtube.com/watch?v=6N8NdScs0yk&feature=related

“Nightfall”:
http://www.youtube.com/watch?v=vDGWff9cIvg&feature=related

“The Bard Song (In the Forest)”:
http://www.youtube.com/watch?v=u_tORtmKIjE

Bom proveito!

terça-feira, 3 de junho de 2008

#30 - Finalmente, Romance nas Estrelas!


Não há dúvidas de que a trilha sonora da série cinematográfica “Guerra nas Estrelas” foi o que tornou John Williams o nome mais popular do cenário, e teve o feito de trazer a música orquestrada para o cotidiano dos jovens que alienavam-se cada vez mais no rock. Em 1977 o primeiro filme foi lançado, mas ele era, na verdade, a quarta parte de uma saga. As partes 5 e 6 vieram em 1980 e 1983.

Mas não é desta época que quero falar. George Lucas, decidido por lançar as três partes iniciais para fechar sua saga, trouxe ao mundo Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999), Star Wars – Episódio II: O Ataque dos Clones (2002) e Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith (2005).

Mas o fato interessante é que esta nova fase de trabalhos teve uma oportunidade pela qual o mestre John Williams sentiu-se muito emocionado e cativado, especificamente para o Episódio II: em nenhum dos quatro filmes produzidos anteriormente havia sequer um tema romântico (ou tema de amor). Em “O Ataque dos Clones”, John comporia uma melodia para ilustrar o amor entre Padmé Amidala e Anakin Skywalker, ambos vivendo um romance proibido, trágico, de que viriam a nascer Luke Skywalker e a princesa Léia. Padmé falece no parto, e Anakin torna-se o antológico vilão Darth Vader.

Para este romance, John Williams compôs o que é, sem dúvida, um dos temas de amor mais cativantes e inspirados de que teremos notícia em muito tempo. Recheado de texturas e facetas, a música “Across The Stars” conduz-nos através de toda uma gama de sensações dramáticas...

... O momento de angústia que parece surgir em 1:39, mas que imediatamente torna-se um sorriso breve... O momento de tensão e ira que parece afogar o tema principal que emerge rarefeito de 2:04 a 2:42, trecho em que vai, pouco a pouco, mutando-se do lirismo para o marcial, dando talvez uma prévia da transformação de Anakin em Darth Vader.

-John Williams - Across The Stars:
http://www.youtube.com/watch?v=mXIpxrDYii8&feature=related

Bom proveito, e pegue o lencinho...

#29 - A doce e pacífica falta de assunto...


Lembro-me da primeira vez em que a ouvi. O fato de o Inglês não ser minha língua natural pregou-me uma peça na mente, e a frase inicial da canção me pareceu “eu devia ter dançado contigo, e depois conversado”. Dei uma leve risada... Embora a tradução correta tenha me vindo depois, esta primeira impressão sobre a bonita “I’d Rather Dance With You” (cuja frase citada é “eu preferia ter dançado contigo, em vez de conversar contigo”) ficou marcada.

A letra sobre um indivíduo constrangido por sua falta do que dizer recheia-se de imagens simples, e talvez isto – junto à musicalidade agradável e movimentada – faça nossa mente vagar pelo sossego das coisas cotidianas, como o filme que se viu ou o livro que ainda não se leu.

Apesar de todas as músicas da dupla norueguesa “Kings of Convenience” serem criadas por ambos (Erlend Oye e Eirik Glambek Boe), a canção em questão deve ter tido como principal cabeça Erlend Oye, rapaz que já era famoso na escola, muito antes de meter-se nos palcos, portando seus óculos gigantes e trazendo na mente uma enciclopédia de trivialidades.

Assistir ao clipe de “I’d Rather Dance With You” é uma grande surpresa. Ele busca construir o enredo a partir da sensação de leve humor e dança que a musicalidade traz, tendo o próprio Erlend como personagem central.

-Kings of Convenience – I’d Rather Dance With You:
http://www.youtube.com/watch?v=C9r9sQ6PHOM

-Kings of Convenience – Misread:
http://www.youtube.com/watch?v=2emj7HXv6Ic&feature=related

Bom proveito!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

#28 - ... E pra onde vai o coelhinho branco?


Pobre do doutor Albert Hoffman, que lamentou-se pelo resto da vida...

Ao desenvolver uma medicação para tratamentos de alcoolismo e disfunções sexuais, ingeriu acidentalmente um pouco da substância, e viu-se na necessidade de interromper o trabalho devido a uma série de alucinações. Com a substância distribuída, não deu outra... Em pouco tempo a droga (batizada de LSD) estava difundida entre multidões ávidas por despertamento espiritual, contatos com espíritos, arroubos de inspiração, ou simplesmente um período de viagem e diversão fora do comum.

Formara-se aí um movimento grande, porém sem nome, que só foi batizado oficialmente (de Movimento Psicodélico) com o bombástico surgimento de uma banda estadunidense chamada Jefferson Airplane.

O grupo formou-se em 1965, e dois anos depois já estava estourado nas paradas, e sendo pioneiros em montes de experimentos musicais na mídia, entre eles a aparição num programa de TV tocando em frente a um chroma key (aquele efeito em que uma cor padrão na imagem é substituída por outra), com um fundo hipnótico de cores, recurso que foi imitado por uma infinidade de bandas a partir de então.

O Jefferson Airplane era um grupo assumidamente adepto dos alucinógenos, e membros chegaram a ser expulsos só por recusarem-se a usar drogas.

Tolo seria aquele que atribuísse a qualidade e ousadia da banda a tais viagens, já que qualquer um que observe o cenário atual pode constatar que dopar a mente não traz talento a ninguém... Eu, particularmente, já me sinto “dopado” o bastante pela vocalista bonitona...

A despeito disso, a temática do Jefferson Airplane ao menos é interessante, e suas músicas bastante memoráveis. Aí vão links das suas canções mais famosas:

“White Rabbit” (reparem a perfeita junção da letra com Alice no País das Maravilhas):
http://www.youtube.com/watch?v=3LdwGUXoXyA

Somebody To Love”:
http://www.youtube.com/watch?v=JUbMWtUyIIE&feature=related

Ambas ao vivo:
http://www.youtube.com/watch?v=Q1cfTMdjkYM&feature=related

Interessante versão de “Somebody to Love” pelos Ramones, na verdade a primeira com que tive contato, ouvindo o CD “Acid Eaters” do meu primo:
http://www.youtube.com/watch?v=tdRFeprn_xc

Bom proveito, e diga não às drogas (principalmente as auditivas)!

terça-feira, 27 de maio de 2008

#27 - O Cavalheiro Solitário


Era uma noite de muita expectativa na cidade de Hamburgo. Era 1848. Um jovem virtuose do piano, de apenas quinze anos, estava para dar seu primeiro concerto público, organizado por ele próprio.

A sala encheu-se, e o pianista agitou os ânimos da platéia com um repertório cheio de agilidade e obras do gosto popular. Foi um sucesso estrondoso. O jovem músico, apalermado com a situação, do tipo que nunca vivera, estava nos bastidores a tomar fôlego, quando um homem entrou no recinto feito um furacão. O rapaz voltou-se para ele, e em sua hipnose extasiante abriu os braços para receber uma suposta congratulação calorosa. Mas Eduard Marxen, seu mestre, agarrou-o pelo paletó e o sacudiu:

- O que pensa que está fazendo, Johannes?
- O que foi, mestre? –
assustou-se o jovem.
- É isto que você quer? Afundar nesse lodo de sorrisos e sucessos, enquanto joga fora sua alma para agradar todo mundo com esse monte de lixo?

Johannes teve um choque. Era o indivíduo mais sincero e humilde que o mestre Marxen conhecia. Queria ser compositor, mais do que tudo, e deixara-se levar, tão fácil, pela ilusão do sucesso barato. A partir de então, continuou estudando a fundo, e passou a finalizar suas primeiras obras oficiais.

Joseph Joachim, um grande violinista da época, após fazer algumas apresentações com Johannes, ficou maravilhado com seu talento, e logo arranjou-lhe uma carta de apresentação para que Johannes conhecesse Franz Liszt, pianista e compositor aclamado como o mais espetacular virtuose da época. Assim, o pobre rapaz viu-se, de repente, enfurnado numa sala em Weimar, junto de célebres convidados e diante do grande Franz Liszt. O clima de sofisticação e superficialidade que cercava o momento deixou Johannes um tanto perturbado. Liszt já havia tido contato com algumas obras de Johannes, e pediu que ele tocasse alguma delas para todos. O pedido foi gentilmente recusado, mas Liszt, sem fazer-se de rogado, pegou uma das partituras e tocou ele mesmo. Os convidados ficaram encantados, e Liszt, empolgado, anunciou:

- Vou agora tocar uma de minhas peças para que você conheça. – E executou uma de suas obras mais espetaculares, tirando o fôlego dos que ali estavam. Ao terminar, sorrindo, virou-se para analisar a expressão de Johannes Brahms, e teve um choque ao notar que ele estava cochilando na poltrona.

Brahms não teve mais contato com Liszt, pois não estava afeiçoado a todo aquele movimento de “grandiosidades” e “revoluções musicais” que reinava em Weimar. Suas obras eram tidas como puras, profundas e sentimentais, e eram criticadas e rejeitadas por toda a horda de seguidores (entre músicos, estudiosos e críticos) que julgavam-se apreciadores da verdadeira música: a que Richard Wagner e Franz Liszt estavam fazendo.

Anos se passaram, até que Brahms conheceu aquela que seria seu grande amor e inspiração: Clara Schumann. Pianista excepcional, Clara era esposa de Robert Schumann, que tornou-se grande amigo e apoiador de Brahms, mas tomado pela insanidade, foi posto num manicômio, onde veio a falecer.

Brahms passou a ser um grande sustentáculo, então, para Clara. Devotou-lhe a mais pura e sincera amizade, e jamais aproveitou-se da falta de Robert. Na mesma época, sua carreira passou a piorar, com sucessivos fracassos de suas músicas. O compositor entrou numa grande onda de tristeza.

Mas foi no mais fundo de sua depressão que Brahms encontrou a saída, ao compor, num relâmpago de ânimo, uma obra inesquecível. E quando sua Terceira Sinfonia estreou, nem os ferrenhos seguidores de Wagner e Liszt puderam ficar alheios a seu poder. Era a redenção do espírito, do compositor mais gentil, solitário e humilde que a história já conheceu: Johannes Brahms.

No aniversário de 65 anos de Clara Schumann, Brahms saiu para comprar flores, mas encontrou a loja fechada. Voltou para casa, e decidiu dar a ela, de presente, a partitura do Terceiro Movimento desta Terceira Sinfonia.

Esteja pronto para o tema principal, tido como o mais belo de toda a obra de Brahms, pois em alguns pode causar profunda tristeza, noutros o escuro da solidão, e noutros ainda o vislumbre da beleza do desconhecido. A obra resume a alma do artista, imbuindo-se de diferentes atmosferas, que intercalam-se de modo bastante sutil, hora imprimindo mistério, hora um ensaio de sorriso.

“Johannes Brahms – Terceira Sinfonia, Terceiro Movimento”:
http://www.youtube.com/watch?v=aNQSzTyvDw4&feature=related

E essa é pra relembrar os sonos da infância:
“Johannes Brahms – Lullaby”:
http://www.youtube.com/watch?v=t894eGoymio

- “Não posso compor como Beethoven, ou como Mozart, mas que eu possa ser puro como eles.”

Bom proveito!