sexta-feira, 15 de agosto de 2008

#48 - O vento que cresceu a barba


Dependendo das circunstâncias gerais em que o faça, ouvir uma boa música deles é como fazer, no meio de um espasmo de felicidade, uma terrível piada sobre seu melhor amigo; é o encontro com a conclusão sábia de que aquilo foi mais você do que o você cotidiano, sendo este último a versão improvisada de um bom manequim social.

Parece espantoso que muitos dos fãs de Los Hermanos relatem uma sensação de “invasão” quando envolvidos pelas canções do grupo, e falo de “invasão” no sentido injusto mesmo, como a possível sensação de alguém sentado no meio de uma roda onde todos pudessem ler seus pensamentos. Mas não tenho muita certeza de que este resultado seja tão misterioso...

Uma das características mais notáveis na banda é a precisão com que as letras são assentadas sobre a melodia, bem como seu temas e desenvolvimentos. Em suma, ao mesmo tempo em que as letras criadas não interferem na idéia melódica, elas não perdem substância por uma comum priorização de um elemento ou outro: letra e música convergem perfeitamente.

O resultado disso é que a bela musicalidade da banda prepara nosso terreno emocional para a série de panoramas e imagens a que as letras nos submetem, e é para nós impossível deixar de tentar decifrá-las. E é por culpa deste ímpeto pela explicação que muitas vezes empobrecemos algumas das letras do grupo, atribuindo a elas uma pretensa “complexidade poética”.

Alguns já descobriram a beleza que é apreciá-las em seus sentidos mais óbvios e simples, como a maravilhosa “Além do Que Se Vê”, que Marcelo Camelo (letra e música) compôs para sua mãe pintora: http://www.youtube.com/watch?v=P9lvAQdFwyM

O Los Hermanos tem uma trajetória (ainda que recente) bem interessante. Após um álbum de estréia com estilo musical frenético e meloso (até debochado), veio um segundo disco bastante diferente, mais introspectivo e refinado, cujo mote parecia ser mesmo o susto que acomete o folião quando a festa acaba. A primeira música deste álbum dá esta clara idéia, introduzida por um trombone solitário e triste, que parece lamentar-se num salão vazio e abarrotado de sepentina e confete:

“Los Hermanos - Todo Carnaval Tem Seu Fim”:
http://www.youtube.com/watch?v=J16o9bYS-no

"Casa Pré-Fabricada" (versão de Roberta Sá):
Bom proveito!

2 comentários:

Stella disse...

Gus, que texto belíssimo!
Fiquei admirada com a profundidade e a sensibilidade do seu entendimento de Los Hermanos. Só achoq ue faltou colocar 'Casa pré-fabricada'. :)
Um grande beijo!

Gustavo Barcamor disse...

Pronto, já não falta mais (-:

O problema é que não tem versão audível com eles, então vai noutra, que também tá legal.

Beijos e obrigado!