terça-feira, 31 de março de 2009

#67 - Lista Negra / O Vôo da Mamãe Coruja


Falando sobre trilhas sonoras, é muito raro assistirmos a um filme ruim que tenha uma boa música. Isto fica óbvio ao lembrarmos de que a música vem a partir do filme, e não o contrário. Assim, não é exatamente uma coincidência percebermos que quase todos os grandes filmes da história (novos ou antigos), têm também ótimas trilhas sonoras. Aproveitando então a temática da escrita, gostaria de abordar boas músicas a partir dos criadores das estórias que vieram a inspirá-las.

Um dos fatos mais curiosos do meio roteirístico hollywoodiano ocorreu em 1957. Era noite de entrega do Oscar, e um homem assistia à transmissão com a filha pequena. Chegando o momento do prêmio para melhor roteiro original, o vencedor foi um tal e ausente Robert Rich, pelo roteiro de “The Brave One”. A menina, que assistia pela TV com o pai, gritou contente: “Nós vencemos, pai! Vamos buscar o prêmio amanhã! Vamos?”, ao que ele respondeu: “Infelizmente não podemos, querida...”. Este homem era Dalton Trumbo. Seu pseudônimo Robert Rich fora usado como forma de transpor o terrível embargo que ele e outros roteiristas sofreram da indústria quando o governo norte-americano resolveu procurar comunistas dentro do cinema. Após ser colocado numa lista negra, por se recusar a delatar companheiros supostamente comunistas, Dalton passou a ser evitado pelos estúdios e após passar meses numa prisão, foi solto para permanecer numa batalha infrutífera para arrumar trabalho.

Aquele Oscar misterioso, ganho por ele, tornou-se um símbolo no meio cinematográfico, e trouxe à tona uma profunda reflexão sobre a tal Lista Negra. A partir daquele prêmio, alguns profissionais dos grandes estúdios passaram a desafiar os tratados de “embargo” propostos pelo governo, e aos poucos Dalton Trumbo e outros roteiristas puderam voltar a trabalhar.

Um dos primeiros filmes escritos por Trumbo após sua volta oficial ao cinema foi “Exodus”. Este filme gerou uma trilha sonora cujo tema principal é ainda hoje aclamado como um dos mais belos já feitos para a Sétima Arte:

- Ernest Gold – Exodus:
http://www.youtube.com/watch?v=jsmZeo1Tc9A&feature=related

Outra maravilha musical, retrato sonoro vívido e brilhante de um mundo mágico, tem uma origem que não deixa de ser, também, bastante dramática.

Antes de ser publicada, a escritora J.K. Rowling, criadora da série de livros Harry Potter, vivia uma rotina constante entre a luta para sair da miséria e a depressão. Sua melancolia sobre a própria condição e suposta incapacidade chegou ao ponto dela, por alguns meses, acordar de manhã e ficar surpresa com o fato de sua filha pequena ainda estar viva.

Hoje em dia, já consagrada, estima-se que o auxílio de Rowling a causas em defesa das crianças e das mulheres já somem o equivalente a astronômicos 200 milhões de dólares.

Transposta para o cinema, a saga de Harry Potter ganhou uma ambientação musical que já é considerada um clássico, criada por ninguém menos que John Williams. Mestre absoluto em gerar melodias marcantes, John carimbou na série o tema batizado de “Hedwige’s Theme”. A música propõe a leveza e beleza do vôo da coruja branca, e estou quase certo de que o tema tem uma pitada de inspiração em Lago dos Cisnes. Vejamos:

- John Williams – Hedwige’s Theme:
http://www.youtube.com/watch?v=UhL2HRAVKZs

- Tchaikovsky – Lago dos Cisnes:
http://www.youtube.com/watch?v=1ea90L91eZk

Bom proveito!

2 comentários:

Andréa Ascenção disse...

só a história do pseudônimo e suas perseguições já daria um outro filme, não?.. bjo, Gustavo

Gustavo Barcamor disse...

Realmente...
Um documentário já existe, pelo menos. É muito bom, por sinal. Vários atores top de linha fazendo leituras dramáticas de algumas das cartas mais interessantes do Trumbo, a amigos e etc..

(-;