sábado, 29 de março de 2008

#6 - Mistérios da Cadeira de Prata


Tudo começou quando três garotos australianos que nem tinham 15 anos de idade e tampouco algo divertido para fazer, resolveram juntar-se para formar uma banda.

Assim começa a história musical do compositor e guitarrista Daniel Johns, que além de extraordinário talento e sensibilidade musical, imprime um estilo poético singular em suas letras, com predomínio de metáforas muito fortes. A emoção que se expressaria em ventos, chuvas, o sol e outros elementos mais vagos, é por ele verbalizada com intensidade na forma de figuras fortes, como: “É muito difícil vestir o coração pela manga”, “Estava com medo, me alimentei, limpei o armário e matei a vergonha”, “Pego pedras e as atiro nos corpos pra sacudir lama”, “Nós crescemos antes de atravessar todas as janelas”, “Olhar tão de perto alguém tão próximo é demais do insuficiente”, “Palavras não dizem os sons que quero ouvir”, “A luz das minhas horas mais escuras é o medo”, “Abracei o ombro doente de um homem”, “É minha hora de brilhar como atum na salmoura”, “Me ame pela minha mente, pois sou um coração perigoso”, “Todas as pontes do mundo não vão salvá-lo se não houver um outro lado”, e por aí vai...

A música “Across The Night” é parte integrante do álbum “Diorama”, que é o trabalho da banda em que Daniel Johns teve seu ápice criativo, a se notar sua especial habilidade para dar caminhos harmônicos inusitados às composições. Tal fato certamente deveu-se a ser o primeiro álbum lançado após ter terminado o contrato com a gravadora anterior, que limitava o gênio de Daniel por impor-lhe um estilo mais “comercial”.

Esta canção me era um mistério. Logo de início a sonoridade orquestral parecia descrever um trajeto animado por Las Vegas, ou uma dessas coisas pseudo-glamurosas, mas a letra estranhamente fala sobre alguém que vivia uma vida mecânica, mas que à noite deixava toda sua fantasia ganhar vida através dos sonhos. Até que ao ler o livro “De Vagões e Vagabundos”, de Jack London, um trecho pareceu fornecer a primeira chave para o significado. Nele, um rapaz pára e observa o sol nascendo, logo antes de entrar na fábrica, e diz que aquilo era tudo que veria do céu até a hora de sair de lá. Isto parece corresponder ao trecho da letra da canção que diz: “nunca vi a luz do sol de pontos mais altos que seu nascer”. A segunda chave para a questão foi encontrada ao assistir ao clipe da música. Ele remete-nos aos tempos do cinema mudo, com suas interpretações exageradas, e mostra realmente um homem que trabalha mecanicamente numa fábrica. Em dado momento, ele aparece puxando continuamente uma alavanca, como um robô, e tal imagem me pareceu muito semelhante aos viciados nas máquinas de moedas de Las Vegas.

Muito do trabalho de Daniel diz sobre sua vida e seus problemas. Devido ao fato do Silverchair ter feito um sucesso tão estrondoso quanto repentino assustou o garoto na época, e sua falta de preparo psicológico para o processo causou-lhe problemas sérios, como anorexia e depressão. A pressão era tanta que aos 17 ele morava sozinho, e ficava trancado em casa incomunicável: não tinha telefone, pois morria de medo que alguém ligasse para ele contratando-o para algum show.

Superada esta fase, Daniel continuou o que amava fazer, mas alguns anos depois teve uma artrite rara, que o deixou quase que 100% paralisado numa cama por meses. Sobre este fato ele compôs uma música muito bela e recheada de certo humor, em que um personagem peculiar conta sobre um cientista maluco, numa casa cheia de mistérios em que foi vítima de experimentos científicos (“Horror With Eyeballs”, gravada com a banda “The Dissociatives”).

Links:
- Across The Night:

- Horror With Eyeballs:


Bom proveito!


Across The Night

Across the night
It was the moon that stole my slumber
Across the night
I fell in love with people sleeping
And hugged a man's arthritic shoulder

I fell tired, asleep in a golden ocean
Your eyes perspired, a spike in my fascination
I don't mean to make you cry
But this feeling will run right through the night
And I'll only make you cry with these feelings
Sleepless, untamed
without a leash on the light around me

So let us be married and have another baby
Coz I don't wanna be lonely I just wanna be alone
Yeh let's just get married shouting baby, baby, babies
"You'll never sleep at all"
But I don't wanna be lonely

Never seen the sunshine
From higher points than sunrise
I don't wanna be lonelyI just wanna be alone”


Horror With Eyeballs

Behind this gold picket fence lies a whole institute
where wallpaper painters scrape and scarecrows swell waterlogged,
now i got dead time on my hands
for feeding my animals,

All of this time on my hands
so far has gone to feeding my animals

On this dark kissed day the light shines through only you
or is it because your silhouette is your frame like an empty window,
now i got cold time up my sleeve, i’m feeling destitute,

All of this time on my hands
so far has gone to feeding my animals

I feel root vegetable! am i dead?
or buried alive? i sleep warm velvet wand,
buy the night…i’m selling the sun, my skin feels
silky smooth now i’m buried in mud

all of this time on my hands,
so far has gone to feeding my animals,
all of that time i was dead,
limbless in bed, sedated experiment.”

1 comentários:

Anônimo disse...

Excelente a matéria.

Abraço.