quarta-feira, 2 de abril de 2008

#13 - Sobre sal e pedras.


Era o ano de 1967. Numa sala tranquila, de suficiente privacidade, a diva brasileira Elis Regina ouvia um certo cantor e compositor a apresentar suas músicas, já que ela buscava material para um novo disco.

O humilde rapaz havia praticamente esgotado seu repertório diante de Elis, sem que ela parecesse especialmente interessada em alguma de suas criações. Quando tudo parecia acabado, Elis insiste: “Você não tem mais nada mesmo?”.

Um tanto assustado e tímido diante de tão admirável cantora, o moço resolveu que não tinha nada a perder, e resolveu mostrar uma canção ainda não totalmente pronta. Poucos instantes após começar a ouvi-lo, ela grita: “É essa, meu Deus! É essa!”.

Este moço era Milton Nascimento, e a admirável música chama-se “Canção do Sal”.
Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de Outubro de 1942. Teve pais muito pobres e acabou sendo adotado por uma família que muito o incentivou artisticamente. Iniciou carreira como cantor de bailes aos 13 anos.

Cantou com dúzias de outros artistas, incluindo Angra, Maria Bethânia, Elis Regina, Gal Costa, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Simone, Chico Buarque, Clementina de Jesus, Gilberto Gil, Sandy & Junior, Paul Simon, Peter Gabriel (com quem co-escreveu a música Breath after Breath do Duran Duran), Herbie Hancock, Quincy Jones e Jon Anderson.
Aproveito também para indicar outra obra-prima de Mílton. A canção pela qual, talvez, ele tenha tornado-se referência mundial na música (sem qualquer exagero), principalmente nos anos 60 e 70: "Travessia".


-Canção do Sal

"Trabalhando o sal é amor é o suor que me sai
Vou viver cantando o dia tão quente que faz
Homem ver criança buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar

Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar

Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa encontrar a família sorrir
Filho vir da escola problema maior é o de estudar
Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar"


-Travessia

“Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar

Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar”

3 comentários:

Fernando Neumayer disse...

cara, excelente o blog!
bacana a direção!
=)

passa no meu www.somimaginario.blogspot.com

vou linkar lá tb.

Anônimo disse...

Essa cena do Milton com a Elis foi reproduzida em um especial sobre a Elis que a Globo passou no ano passado...

E olha que as músicas que o Bituca apresentou à Elis fizeram grande sucesso posteriormente...

A Elis lançou muita gente... geniais o Milton, a Elis e também o Gil, que apresentou um ao outro...

Parabéns pela matéria.

Abraço.

Gustavo Barcamor disse...

Olá, Ádlei!

Não assisti... Soube do fato pela boca do próprio Mílton, numa entrevista. Muito me chamou a atenção um certo deslumbramento que ele transparecia enquanto contava.

Um abraço!