segunda-feira, 14 de abril de 2008

#17 - Entre a chama mística e a água de chuva


… E quem iria condenar o garotinho que viciara em versos e rimas? Se Pernambuco toda bebia do mesmo pecado... Assim cresceu José Paes de Lira, declamador e músico arcoverdense, entre teatros e afins, esbanjando energia e paixão entre histórias e estórias em verso.

Em 1997, já adulto, criou um espetáculo teatral que era basicamente um apanhado de textos regionais, entremeados por algumas músicas. A empreitada fez muito sucesso, e ganhou apresentações por todo o interior de Pernambuco.

Com o passar do tempo, a música foi ganhando mais e mais espaço, e em 2001 o Cordel do Fogo Encantado (nome do primeiro espetáculo, adotado efetivamente pelo grupo) entrou em estúdio para gravar o primeiro CD, de mesmo nome. Foi então que o Cordel ganhou projeção nacional, ao passo que suas apresentações ao vivo fulminavam as platéias com uma energia humana e sonora além do comum.

Discordo bastante daqueles que afirmam ser o Cordel um dos maiores representantes da cultura musical brasileira. Apesar disso ter lá sua grande verdade, acredito que os elementos de sua música que são decisivos no ganho de público são justamente os que vêm de outras culturas: a africana (na percussão), e a espanhola/argentina (em muitos dos arranjos de violão), muito embora possamos justificar que a cultura brasileira é exatamente um misto de culturas.

Laureado com diversos prêmios, como: banda revelação pela APCA, melhor grupo pelo BR-Rival, Caras, TIM, Qualidade Brasil e o bi-campeonato do Prêmio Hangar, o Cordel, hoje, já prioriza 100% a música. Até antes de 2006, concebiam primeiro um contexto teatral, para depois criarem as canções.

- Chover (ou invocação para um dia líquido)
http://www.youtube.com/watch?v=9I4pUXeJKAI&feature=related (ao vivo)
http://www.youtube.com/watch?v=wVRO4CnzGzU (clipe)

- Palhaço do Circo Sem Futuro
http://www.youtube.com/watch?v=a0MuxMjY1vo (ao vivo)

Bom proveito!


Chover (ou invocação para um dia líquido)

"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove

Chover chover
Valei-me Ciço o que posso fazer
Um terço pesado pra chuva descer
Até Maria deixou de moer
Banzo Batista, bagaço e banguê

Chover chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Já que meu olho cansou de chover
Até Maria deixou de moer
Banzo Batista, bagaço e banguê

Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera

Bombo trovejou a chuva choveu

Choveu choveu
Lula Calixto virando Mateus
O bucho cheio de tudo que deu
suor e canseira depois que comeu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Inácio e Romano meu verso e o teu
Água dos olhos que a seca bebeu

Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola

Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou.”

1 comentários:

Anônimo disse...

Caramba... Essa página é muito legal porque não se dedica a um único estilo. Há um pouco de tudo o que é bom aqui.

Adoro o Cordel do Fogo Encantado.

Parabéns mais uma vez, meu amigo.